sábado, 18 de outubro de 2014

O dia que passou despercebido.

Há coisas em nossa vida sobre as quais não temos real noção do seu significado até muito depois de terem acontecido. No momento em que ocorrem elas parecem banais ou casuais, mas depois é que a ficha cai. Pode ser assim com seus 18 anos, seu primeiro beijo, só pra citar alguns exemplos. Pra mim, que sou um cara que costuma se importar com certos simbolismos, essas questões de datas são importantes.

Por isso foi com espanto que me lembrei só hoje que anteontem, dia 16, completou-se um ano que moro aqui em Aracaju. Aí a gente para e pensa: "Cacete, já faz um ano que moro aqui!". Você poderia achar que isso não significa nada, até porque me lembrei com atraso. Mas significa. E muito.

Vir pra Aracaju marcou o começo de uma nova etapa da minha vida. Eu estava deixando a casa de meus pais, estava saindo de baixo das asas deles e todos os confortos que isso me proporcionou por 17 anos, pra encarar uma jornada em outra cidade. Ok, eu já tinha morado aqui um ano, em 2009, mas de qualquer forma seria uma experiência diferente. Meus pais e minha irmã não viriam comigo. Eu estava deixando Itapetinga e meu lar pra morar sozinho.

Pra alguns isso é uma sensação de liberdade inebriante. Mas pra aqueles que como eu possuem fortes - e por que não dependentes - laços com seus lares, é mais difícil do que parece. Lógico, nos primeiros dias eu tava completamente entusiasmado pela ideia de morar sozinho e ganhar mais direito sobre meu próprio nariz, a ponto de que quando rolou Semana Acadêmica na UFS e não houve aulas por uma semana, preferi passar essa semana aqui do que ir pra Itapetinga ficar lá naquele período em casa, como sugeriu minha mãe.

Uma decisão da qual me arrependo até hoje.

Eu não fiz nada naquela semana. Absolutamente nada. Fiquei mais em casa do que saindo e fazendo alguma outra coisa. E o pior: eu desapontei minha mãe quando respondi que preferia ficar aqui. Se tivesse a oportunidade de remediar isso certamente remediaria. Tanto que se outra chance aparecer não tomarei a mesma atitude. 

Naquela época eu ainda estava me adaptando à cidade e a essa nova rotina. Depois de um ano "sabático" onde tudo o que fiz foi me viciar mais em internet e a viver uma vida totalmente sedentária, pode-se dizer que eu não era o cara mais preparado do mundo pra uma vida universitária intensa, ainda mais num curso puxado como Engenharia Civil. Bom, o resto da história vocês sabem.

("Já estamos de saco cheio de você falar sobre isso", dizem os leitores)

Enfim, apenas reiterando algumas coisas: o segundo período não foi mais fácil do que o primeiro, mas ao final foi mais gratificante. E ao longo desse ano certamente tive experiências mais do que suficientes pra entender que preciso mudar alguns rumos da minha vida. Mas não gosto de fazer promessas que posso muito bem não cumpri-las: então não sou o tipo de cara que vai chegar e dizer: "novo período, novo eu". Não. Não sei se é porque sempre conto com o benefício da dúvida ou porque realmente não tenha fé de que mude a esse ponto, mas o fato é que muitas vezes acabo me deixando levar pelas circunstâncias e me acomodo demais pra querer mudar algo em mim. Por favor, não me julgue. Já faço isso direto comigo mesmo.

Mas em meio às turbulências, aos sorrisos e lágrimas, às experiências que me amadureceram (ou pelo menos deviam ter me amadurecido), fui encontrando o caminho a seguir. Quantos foram os dias em que me vi no limiar do desespero, não raramente pensando se era esse curso que eu queria seguir, ou se estava destinado a ser um escritor? Mas agora me encontro em tamanha paz em relação a esse assunto. Mesmo que meu curso esteja atrasado pra caramba (fiz o favor de perder mais uma vez numa matéria crucial pra grade), mesmo que esse período venha ser de lascar, mesmo que financeiramente as coisas ainda não tenham melhorado muito... Em tudo a gente vai aprendendo a dar graças.

Ah, eu falei que FINALMENTE terminei a revisão do livro? Sinto até um vazio na alma por isso. Sim, tinha dias em que ficava mais no facebook do que propriamente escrevendo, mas pelo menos tinha um propósito. Agora vou ter de me dedicar ao semestre (damnit), mas de qualquer forma esse é o momento em que mando pras editoras e aguardo respostas. O primeiro passo já foi dado: selecionar algumas e enviar emails procurando saber se estão recebendo originais e se sim, se há um prazo de resposta. Os outros passos vem depois.

A verdade é que depois de três anos escrevendo O Destruidor de Mundos, tudo em que penso é em publicá-lo logo. Mas bom, o que podem ser mais alguns meses depois desses anos? Não é fácil dividir meu foco entre duas coisas tão cruciais quanto minha obra e meu curso, mas a gente vai tentando manter esse equilíbrio tão arduamente encontrado. E tenta por nas mãos do Pai. Tenta melhorar sua relação com Ele, porque tá deixando muito a desejar. Vai construindo suas visões de mundo. Vai crescendo e aprendendo a lidar com as agruras da vida.

Porque mesmo já tendo se passado um ano, a jornada ainda só tá começando. E de qualquer forma, se esta aqui é minha nova casa, a minha velha casa permanece lá na Rua Nova, sempre pronta pra me receber.