sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dedicatória.

Dedico este quinquagésimo post a você que nunca levou esse blog a sério.

A você, que riu de minhas postagens. A você, que zombou de meus excruciantes e ridículos atos de abrir o coração. A você, que pensou em como eu era um imbecil por escrever sobre dores de cotovelos e opiniões retrógradas. A você, que em toda a sua sapiência se pôs a declarar com todo o fervor seu escárnio quanto ao meu relacionamento virtual.

Se você se encaixa nos quesitos acima, você é um idiota.

Por que entenderia o motivo pelo qual fiz esse blog? Você não sou eu. Eu não quereria ser você. Nunca, jamais. Quando entenderá isso, hein? Quando entenderão isso? A coisa de que mais tenho orgulho é de ser quem eu sou. Com todos os defeitos (que podem ser extirpados), com todas as virtudes. Com todos os modos de pensar, tão escarnecidos, tão criticados, tão...

O blog me ajudou a ter coragem em admitir aos quatro ventos quem eu sou e no que acredito.

Na busca eterna das respostas eu encontrei meus meios-termos, tão ligados à ética  do equilíbrio aristotélico. Longe do extremismo, uma virtude pautada entre excessos e deficiências, uma gama de opiniões condizentes ao mesmo tempo com a fé que expresso e minhas observações de mundo. Mais do que isso, a oportunidade de ser sincero de uma forma que eu sei que não poderia ser na vida real, dada as minhas limitações em termos emocionais e comportamentais.

Também encontrei aqui um mini-diário, um espaço de registro de algumas das minhas atividades, até do meu crescimento enquanto pessoa lá em Aracaju. Não, não exporei 100% de minha vida aqui. Não o faria aqui, nem em qualquer outro lugar. Sou bem seguro quanto a isso, e já errei demais expondo alguns dos meus segredos para persistir nesse erro. Mas me sinto melhor em fazer isso sem me perguntar tanto sobre como vão me julgar.

A você que acha esse blog uma idiotice, jamais dedicaria esse texto a você. Foi apenas um meio que usei pra te xingar mesmo.

Dedico a um amigo que me deu o incentivo para poder criar esse blog. Valeu, cara. Você veio me perguntar se eu estava bem e pôde não apenas me ouvir, como me aconselhar. Você partiu de sua própria experiência para de alguma forma me ajudar. Quase quatro meses se passaram, e eu realmente não esqueço de que o incentivo veio de você. Muito, muito obrigado. O blog não existiria sem você.

Li há algum tempo que um indivíduo demora em média 17 meses pra superar o término de um namoro. Wow, isso é muito tempo. Não sei se a informação procede, só sei que aquele "expurgo de um coração partido" que coloquei como descrição deste blog está perto de se concretizar finalmente. Eu estou feliz e satisfeito. Tenho novos desafios, novas visões, novas opiniões, novos modos de ver este mundo tão paradoxalmente horrendo e belo. Os dias vão e vêm, mas eu estou firme sobre a Rocha. 

Que venham mais 50 posts. E outros 50. E tantos outros mais, enquanto meu coração estiver presente nessas palavras.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino.

"...mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino."  1 Coríntios 13.11

Eis que me torno um homem aos olhos da sociedade. Se para os judeus o rito de passagem para a maioridade é aos 13 anos para os meninos (com a cerimônia do Bar Mitzvah) e 12 para as meninas (Bat Mitzvah), para mim são várias felicitações no facebook. De alguma forma eu esperei por esse momento, pela chance de ser legalmente responsável por mim mesmo. Onde pudesse fazer as coisas sem depender de um maior ou responsável. 

Bom, é claro que ainda sou bastante dependente. Mas certamente estou longe de ser quem eu era.

Como Arya Stark em Braavos, cada dia é um aprendizado novo pra mim. Uma responsabilidade, um dever, uma mudança. Aquilo que somos, aquilo que nos impedia de seguir nossos caminhos, é extirpado dia após dia, um pedaço aqui, um pedaço acolá. Lenta e vagarosamente, sou cauterizado da figura acomodada que era, em busca de ser alguém que precisa tomar a iniciativa das coisas. Eu preciso ser esse alguém, do contrário como sobreviverei sozinho?

Eu sei que é cedo pra dizer que mudei completamente. Muito cedo, aliás. Cara, ainda sou deficiente em tanta coisa. Sem um avô pra te acordar pontualmente às seis da matina, a única pessoa que pode fazer isso por mim sou eu mesmo. Putzvelho, não é fácil, confesso. E sou de uma preguiça tamanha... com um curso à tarde e tendo de estudar pela manhã, nego que passou um ano de bobeira descobre que vai ter de ralar muito ainda pra criar sua própria rotina. 

Mas felizmente não estou desamparado. A quantidade de gente que me acolheu aqui em Aracaju... gente da igreja, da família de Dona Edite, minha senhoria... nossa, sou eternamente grato. E é claro, as ligações diárias pra Itapetinga. Não posso perder as raízes, já disse.

Enfim, é isso. Quando este dia começou, eu não tinha digerido que estava ficando mais velho, "mais perto da morte". Não foi um grande choque, foi apenas... mais um dia. A mudança não se resume a hoje, é maior, mais lenta e gradual. Já ocorre há algum tempo. E quando acabará? Eu não sei dizer. Mas cada dia é mais diferente do outro, mais... velho. Inexoravelmente avançamos pro fim com a certeza de que fazemos nossos meios.

E crescemos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Queen II - o melhor álbum que você jamais ouviu.



Fala aí galera, tudo bem? Eu sei que o blog não tá mais com aquela constância de antes, mas sempre na medida do possível tento postar alguma coisa aqui. Dessa vez quero abrir a seção "resenhas", tecendo comentários críticos acerca de obras musicais e cinematográficas que eu amo. Também vai ser um espaço de divulgação, principalmente dos meus gostos musicais, que podem ser vistos como "heterodoxos". Não, não sou hipster, mas já disse aqui que meus estilos sonoros não são lá apreciados pelo grande público. Mas como vou mostrar aqui, até mesmo grupos conhecidos pelas massas têm seus momentos underground.

Queen é um ótimo caso disso. Afinal de contas quem nunca ouviu "We Will Rock You", "We Are The Champions", "I Want to break Free", "Under Pressure" ou outros zilhões de sucessos dessa banda maravilhosa? Mas por outro lado... quem já ouviu "The March of the Black Queen"? Se não, escute no link acima, e aí você vai entender quando digo que essa música tem vocais melhores do que "Bohemian Rhapsody".

O Queen é uma de minhas bandas favoritas. Tive contato com eles desde moleque, graças (como sempre) ao meu pai. Ele tinha o VHS (VHS!) do "Greatest Hits II", com os clipes de seus sucessos dos anos 80 e 90. Então tenho uma lembrança vívida de clipes como "The Invisible Man" e "The Miracle", entre outros. E é claro, ouvi "We Will Rock You/We Are The Champions" e "Bohemian Rhapsody" em milhares de lugares diferentes. Mas a partir do ano retrasado, quando descobri que eles estavam incluídos na categoria"Prog Related" no site ProgArchives (onde eu costumo escrever resenhas), decidi conhecer mais da banda. E putz, meu mundo mudou.

Apenas escute os cinco primeiro álbuns do Queen e compare com o material da banda nos anos 80, onde já tinham seu sucesso comercial e crítico. Caraca, são muito diferentes. Antes de tudo, eu digo que amo tudo o que a banda fez (exceto 80% de Hot Space e Flash Gordon), mas meu coração prog é mais afeiçoado ao material inicial. A criatividade e ambição da banda, bem como o som pomposo e extremamente bem-produzido que sempre foi a marca deles é ainda mais evidente em seus dois melhores álbuns: "A Night at the Opera" e "Queen II". Mas se ANATO é repleto de hits marcantes ("Bohemian", "Love of My Life", "You're My Best Friend"), "Queen II" é extremamente desconhecido. Não obstante, é pra mim a obra-prima da banda.

Como naqueles tempos idos da década de 70 o tipo de mídia eram os eternos vinis ("bolachões") a banda aproveitou isso nomeando o lado A do vinil de "white side" e o B de "black side". O lado branco é composto de quatro músicas de Bryan May e uma de Roger Taylor. Estas faixas seriam mais "convencionais", apesar de se ver um senso de coesão brilhante. 

Ele abre com Procession, um curto instrumental marcado por uma espécie de batida cardíaca (o bumbo da bateria, na verdade) seguido das geniais harmonizações de guitarra de May (que é um de meus guitarristas favoritos). Ela conecta-se à Father to Son e uau, que música é essa? As harmonias vocais pelo qual a banda sempre foi conhecida estão a pleno vapor, e May destrói na guitarra, como sempre! Se você acha que Queen é uma banda de pop/rock, eu te digo que eles são todos os gêneros possíveis, e é isso que os torna tão perfeitos.

White Queen (As It Began) é uma doce e melodiosa canção, com alguma trabalho acústico de May que muito se assemelha a uma cítara e Freddie como sempre brilhando nos vocais. Same Day, One Day é a primeira música da banda cantada por May e que ótima voz ele tem! Suave, em contraste com a voz poderosa de Mercury, e eu destaco o solo final de guitarra - ou melhor, de três guitarras sobrepostas. Afinal de contas, overdubs e paredes de som são sinônimos pra essa banda. Finalmente o lado branco termina com The Loser in the End de Taylor, com seu vozeirão rouco e agressiva - não era à toa que ele pegava alguma das faixas mais pesadas da banda, além de ter um falsete maior que o do próprio Freddie! Essa faixa é um hard rock mais convencional, destoando da temática fantástica do álbum, mas ainda assim é muito boa.

Eis que chega o lado negro.

Seis músicas, a maioria delas interconectadas, como se fossem uma só. Quer algo mais progressivo do que isso? Fruto da genial mente do Sr. Mercúrio, um de meus cantores favoritos, assim como de milhões de pessoas. Ele era o cara mais ambicioso da banda, e explode nossas mentes com o lado negro, que pra mim é o ápice de sua criatividade. Basta ver os efeitos da primeira faixa, Ogre Battle. Pqp! Os vocais são fora deste mundo, a instrumentação é pesadíssima - praticamente como se fosse um trash/speed metal antes que estes gêneros existissem. A batalha do título é trazida a nós ouvintes de forma fenomenal. Em seguida vem The Fairy-Feller Master Stroke, uma faixa pra lá de erudita com uso intenso de cravos, castanholas, o clássico piano da banda e é claro, nossas queridas harmonizações vocais. A próxima música é a curta Nevermore, apenas piano e voz(es), uma doce e bela balada que serve mais como um interlúdio.

E então chegamos no épico do álbum: The March of the Black Queen. Não há como descrever essa canção. São tantas mudanças, seções, elementos, variações... acho que tudo que posso dizer é que a escutam e saibam do que estou falando. Pra mim a obra-prima de todas as canções da banda, junto com a também épica The Prophet's Song do ANATO. Ela conecta-se à balada Funny How Love Is, que apresenta mais um grande trabalho de harmonizações, embora não possui grandes variações. E por fim temos a canção mais conhecida do álbum, o single Seven Seas of Rhye. Quem já ouviu o primeiro álbum da banda certamente conhece a versão instrumental dela (que é mais como uma "prévia", por assim dizer). Imagine uma canção épica de fantasia com menos de três minutos. Pois é, Queen sabe fazê-la. Essa banda é única, cara.

Pois então, é isso. Eu realmente não tenho palavras suficientes pra descrever o amor que tenho por esse álbum e por essa banda. Mesmo que eles tenham se "rendido" à fama (e ainda assim tornaram-se ainda mais mitosos) o melhor deles ainda tá lá no começo de sua carreira, na minha sincera e humilde opinião. Conheçam esta outra faceta do Queen!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Destinos.

O mundo é regido pelo suave farfalhar do bater de asas de uma borboleta.

Suaves, gentis, ela conduzem o corpo deste pequeno inseto, levando-o pelo ar em sua jornada. Seja como um pesticida, seja como um polinizador, ele possui seu papel dentro do ciclo da vida, agindo com parcimônia, seguindo sua vida.

Por causa daquele bater de asas, provocou-se um tufão no Japão.

O movimento mais singelo, mais puro, acaba causando o caos. Gradativamente, paulatinamente, causa uma série de casos e ocasos, levando à tragédia. O simples fazer, o deixar de fazer, conduz a uma outra realidade. Aquele simples gesto traz complexas consequências.

Erros e acertos. Lógicas e emoções. Destinos. A natureza do ato, refletida em suas consequências. O teor da intenção, expresso nas linhas do destino. 

Eu penso em como a nossa vida é frágil e efêmera, moldada por nossas ações e por situações maiores do que nós. Somos senhores do nosso próprio destino, já ouvi dizer. É verdade? Quando olho pras tragédias que aconteceram de forma inexplicável, eu encontro outras respostas. Quem poderia dizer que aquele machucado ia gangrenar? Que aquele avião ia falhar? O que podemos prever em nossas vidas? Fazemos planos, e eles se tornam pó.

Não somos nada diante do acaso. Do Todo Poderoso Destino. Somos senhores do presente, e olhe lá. Acredito - e essa é uma ideia que tenho alimentado há algum tempo - que a vida, ou melhor, o futuro dela, é feito de inúmeras variáveis, uma para cada decisão que tomamos ou deixamos de tomar, uma para cada fato que está além de nossa interferência. E à cada escolha, à cada eventualidade, este número de variáveis se altera para mais ou para menos, indicando novas possibilidades a se viver. 

A vida segue, para além de nossa racionalidade e previsão. Porque ela é imprevisível, e é isso que a torna tão mágica e assustadora.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Fins.

No dia 12 você falou de nossos começos. Hoje eu venho falar dos nossos fins.

Eu sei, estou um dia atrasado. Consegui um computador pra isso hoje. Mas eu senti que devia fazer isso, que precisava ter uma resposta.

Foram muitos "fins" os que tivemos. Muitas discussões. Muitas tensões. O dia 12/06 foi aquele em que realmente começamos, mas terá sido 29/08 o dia em que realmente terminamos? 

As coisas desandaram depois que eu quase terminei com você. Depois disso nosso relacionamento nunca mais foi o mesmo. Olhando em retrospecto foi bom que você tenha terminado comigo. Mas é claro que não acabou ali. Ainda conversamos um bocado, tentamos resolver nossa situação. Mas por mais que tentássemos nos afastar um do outro não conseguíamos, por causa dessa conexão que existe entre nós ainda.

É irônico, e ao mesmo tempo triste, que tenhamos encontrado uma coragem pra falar verdades um ao outro na separação que não encontramos enquanto namorávamos. 

Agora eu vejo claramente que nunca teria dado certo entre a gente. Eu já dissertei sobre os motivos muitas vezes aqui no blog, não há necessidade de repeti-los. Mas agora encontrei a coragem pra dizer aquilo que sempre esteve implícito, que eu quis negar a mim mesmo mas que era a pura verdade.

Você sempre me amou mais do que eu te amei.

Sim, sempre foi isso. Acho que foi algo que nós dois sabíamos, mas não queríamos aceitar ou mesmo dizer em voz alta. Eu deveria me sentir melhor finalmente que assumi isso? Pois não me sinto. Nada que me remeta ao que fez nosso relacionamento acabar me fará sentir melhor isso. Queria viver sem essa dor. 

Mas agora passou, ou está passando ainda. Eu me sinto melhor, mais feliz, mais disposto a seguir em frente. Nós nos afastamos, então eu não sei como você está. Faz quatro dias desde nossa última discussão. Será que toda vez que conversarmos passaremos por esse calvário? Se for assim, então nem amigos conseguiremos ser. A névoa sombria, o espectro de nosso relacionamento sempre pairá entre nós, ao que parece.

Depois que terminamos, eu sempre orei para que você conseguisse seguir em frente. Agora seu nome não está mais nas minhas orações. Quando eu digo "Senhor, abençoe as pessoas que eu amo", eu realmente não sinto como se você estivesse incluída nesse grupo. Porque a outra verdade é tão simples e tão dramática quanto.

Acho que não amo mais você.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Despedidas.

Despedidas são no mínimo, estranhas.

Essa estranha e surreal sensação de encerrar uma fase de sua vida parece algo difícil de se digerir. Faltam duas horas pra eu viajar pra Aracaju e acho que a ficha ainda não caiu. Estou saindo das asas de papai e mamãe. Estou indo começar o curso que sempre quis.

Onze meses se passaram desde que meu ensino médio acabou e nesse tempo todo não me senti nervoso em relação ao dia em que as aulas começariam. Nem mesmo agora, quando elas estão mais perto do que nunca, estou sentindo algum calafrio, algum frio na espinha, nada. Tudo parece tão... normal.

É a dor do adeus que mexe mais comigo.

São anos de história da minha vida que estou deixando aqui em Itapetinga. Inúmeras amizades, relacionamentos, situações, lembranças. Comigo vão as memórias de tudo que vivenciei aqui, a certeza de que deixei um legado bom. 

Até o presente momento eu ainda não derramei uma lágrima por minha partida. Mas certamente derramarei. Como já disse aqui, sou um cara sistemático mas passional, o que significa que sou muito apegado às pessoas que amo. Ir pra Aracaju não significa cortar as relações que tive aqui, mas mantê-las em meu coração e criar novas, adaptar-se a uma nova realidade. Espero, por Deus, estar pronto.

Mas não me esquecerei de quem fui aqui, das relações que tive. A pessoa que fui em Itapetinga é a que eu quero ser lá em Aracaju, tentando ter menos falhas. É algo que desejo ainda mais após ver vários dos meus amigos, das pessoas que eu amo, falarem pra eu manter meu caráter e minha índole lá, e assim vemos as impressões que construímos nos outros. Isso deve continuar, mais do que tudo.

Esse pode vir a ser meu último post por um bom tempo, dado que eu não sei como será a questão da internet por lá. Se eu sumir não se preocupem: ganhei algo pra fazer na minha vida. 

É isso aí, galera. A vida adulta começa. Torçam por mim.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Aos mestres, com carinho.


Neste dia de 15 de outubro estou sendo levado a algumas reflexões interiores, daquelas que me surgem de vez em quando. Já parabenizei os membros da minha família que exercem a função de professores, mas não posso parar por aí.

Exemplos que vêm de casa

A educação sempre esteve presente aqui em casa. Minha mãe e meu pai são professores, de geografia e música, respectivamente. Somos uma família simples, não sem suas dificuldades, e já falei de algumas delas aqui ("Sete Meses"). Como tal, eu vi minha mãe e vários de seus colegas padecerem por causa de um governador descarado que tá pouco se lixando pra educação. Claro que ele não é o único. A educação é um problema sério em todo o país.

E ainda assim eles são o que são.

Dentre todas as coisas que eu posso ter orgulho dos meus pais, essa nunca foi algo que eu levei muito em consideração. Olhando em retrospecto, o fato deles serem professores nunca me foi visto como algo de mais. Deus, como eu errei nisso. Caramba, seria "apenas" uma profissão? Analisando os protestos dos professores no Rio, os pisos salariais miseráveis, o descaso com as escolas, a violência e a ignorância dos alunos, ser professor é realmente "apenas" uma profissão?

Para aqueles que se tornaram meus amigos

Agora olho para a realidade dos meus anos estudantis. Sempre estudei em escola particular. A realidade da pública, do descaso, isso eu nunca vivi. Na boca, sempre a palavra jocosa, a piadinha com a educação dos colégios públicos. A realidade cruel estava longe de mim, nunca me tocou.

Como é fácil nos sentirmos bem quando não sofremos tais males.

Dentro da realidade que eu vivi ao longo desses quatorze anos de ensino fundamental e médio, bom, eu nunca fui um aluno problema. Não dava dor de cabeça. Modéstia à parte, fui um "aluno exemplar". Isso não quer dizer que não houve atritos algumas vezes, ou que eu não cheguei a ir com a cara de algum docente. Especialmente no médio tinha sempre aquele ou aquela que detestava pra caramba, que achava um péssimo professor(a). A gente é humano, ué.

Por outro lado, com outros desenvolveu-se aquela camaradagem, uma "brodagem" além da simples relação aluno-professor. No meu caso, é engraçado avaliar a relação que eu tinha com Jesse, meu professor de física e o mais temido por todos. Experimenta tirar uma dúvida com ele, sacana, que cê vai sair chorando. E no entanto, eu tinha culhões pra perguntar a ele sem temer represálias ou até mesmo rir de sua cara. Sabe por quê? Porque fui pra recuperação de física no 1º ano. É, traumático. Esta e a de química naquele ano são as manchas no meu currículo escolar. Mas saber que ele acreditava que eu tinha potencial para ir além e tirar ótimas notas - como de fato aconteceu no ano seguinte e em menor escala no terceiro - mudou tudo. A ponto dele ter ido me cumprimentar por eu ter passado numa prova onde quase todo mundo perdeu. Uau, aquele gesto foi altamente significativo. Cada pequena vitória em física significava algo mais, e hoje posso dizer que realmente gosto pra caramba de Jesse.

No entanto, os professores mais camaradas que eu tive foram Sílvio Márcio, de Matemática, e Paulo Nascimento, de Geografia - minhas duas matérias preferidas (junto com História). Enquanto Sílvio (assim como professores mais antigos) foram colegas de trabalho da minha mãe no Colégio Modelo e no Savina, onde estudei, ela foi professora de Paulo na universidade. Era impossível não aprender com eles. E no caso de Paulo ainda aprendíamos Filosofia e Sociologia, e se há um cara que respeito pelas suas visões de mundo é ele. Me ensinou muita coisa. Aquela amizade que cê quer levar pro resto de sua vida, bater um pao existencial, falar de cultura pop e qualquer outra coisa, porque existe essa liberdade e esse respeito mútuo.

Conclusão e pensamentos finais

Na ficção temos vários exemplos de grandes mestres. Meu favorito é com certeza John Keating de "Sociedade dos Poetas Mortos", um dos meus filmes favoritos. É seguro dizer que tive alguns "John Keatings" em minha vida, seja na escola, seja em casa ou em outros lares da família. Como minha tia lindamente me disse: "Todos nós em algum momento somos educadores Vi... sempre que ensinamos o bem àquele que está ao nosso redor."

Os aspectos da liderança - ASOIAF e as lições sobre o poder e governança pt. 3.

[Contém spoilers d'As Crônicas de Gelo e Fogo. Você foi avisado.]

Bom, aqui estamos de volta com a temática do poder em ASOIAF. Minha intenção era trabalhar em dois posts apenas, mas é um assunto que rende bastante, até porque é um dos temas principais da série. E é claro que eu não poderia falar dele sem mencionar dois personagens importantíssimos pra história.

Ascensão: A Aranha e Mindinho e suas ações em Westeros

Petyr Baelish e Varys são dois dos mais icônicos e misteriosos personagens da saga. É impossível dizer exatamente quem são, até pelo fato de não serem narradores. Talvez de Mindinho conheçamos mais, graças às lembranças de Catelyn Stark em seu castelo Correrrio, uma vez que ambos eram grandes amigos na infância. O passado de Varys é desvendado um pouco mais no quinto livro através de sua amizade com Illyrio, magíster da Cidade Livre de Pentos. Mesmo assim é pouco para definir o que querem, como agem e como conseguiram chegar aonde chegaram. Duas figuras donas de passados misteriosos e até trágicos que alcançam o alto escalão do poder de Westeros. 

E cada um, a seu modo, tem seus jogos a jogar.


A tragédia do amor romântico: o que Mindinho quer?

"Só os deuses sabem que jogo Mindinho está jogando." Varys em A Guerra dos Tronos 

Do que conhecemos de Petyr, sabemos que ele foi apaixonado por Catelyn na infância, a ponto de querer lutar pela mão dela com Brandon Stark, sendo derrotado de forma humilhante. Aquele garotinho cresce e se torna um homem frio e astuto, bem diferente daquela criança. Quando Catelyn o reencontra ele é o Mestre da Moeda do reino, tendo ascendido graças a Jon Arryn. Apesar de oferecer ajuda a Ned Stark não hesita em traí-lo, e mais tarde descobrimos que foi ele quem elaborou o plano de envenenar Joffrey, bem como a aliança Tyrell-Lannister. E acima de tudo: usando a Lysa Arryin (irmã de Cat e com quem tinha um caso), faz com que ela envenene o marido Jon, a morte que desencadeia todos os eventos da série.

Por que tramar tantos planos ardilosos? Quais são os objetivos de Mindinho? Através de suas interações com Sansa Stark no terceiro e quarto livros descobrimos (um pouco) mais de suas intenções, mas ainda assim não sabemos o suficiente - estamos longe disso. Ao final d'O Festim descobrimos que Mindinho "dará" o Norte a Sansa através do seu casamento com o herdeiro da Casa Arryn. Então tudo o que ele fez é por isso? Duvido.

Se há um personagem que não pode ser chamado de vilão, por mais que mereça, é Petyr. Ele é um fdp de ordem maior, mas é impossível não admirar e até gostar desse maldito. O fato de Cat "friendzoná-lo" traz até um processo de identificação com muitos leitores, especialmente os masculinos (não que isso justifique uma guerra civil, é claro). Essa rejeição foi muito importante pra tornar o homem que ele é, e tem consequências profundas. De uma forma até mesmo doentia, podemos ver que ele projeta a imagem de Catelyn em Sansa, e cada vez fica mais claro que há um interesse sexual da sua parte pela garota, apesar do disfarce de "pai e filha" que usam ao longo d'A Tormenta e d'O Festim, numa clara ligação "Humbert-Lolita", da obra de Vladimir Nabokov. 

É difícil, praticamente impossível, delinear onde termina a face amigável de Petyr Baelish e começa a sombria de Mindinho, tampouco suas intenções. A meu ver, eu imagino que ele provocará a queda das grandes Casas atuais e a ascensão de novas - estas com senhores que ele possa controlar nas sombras, às vezes sem mesmo saber que estão sendo controlados. Ou seja, ele seria um "master of puppets" mais do que já é. Mas o futuro de Mindinho é obscuro. Parte de mim quer que ele viva no final, outra que Sansa aprenda muito e muito com ele e o mate. Quem pode dizer? O futuro ao deus da morte (aka Martin) pertence.

"Chaos isn't a pit. Chaos is a ladder." Mindinho


Teias e mais teias: a rede de Varys e Illyrio e o provável retorno dos dragões

Se mesmo com a quantidade de informações que temos de Petyr ainda é insuficiente traçar uma trajetória futura para ele ou suas intenções, o caso é ainda mais extremo com Varys. Sabemos que ele é da Cidade Livre de Myr, integrava uma trupe de pantomineiros e foi vendido a um homem que o castrou num ritual de invocação de alguma força maligna, o que o faz abominar a magia (ou pelo menos é o que diz, embora trame planos que envolvam aquela que detém os seres mágicos mais poderosos do mundo, como falarei mais abaixo). Sendo um ladrão, é descoberto e vai para Pentos, onde firma uma amizade e uma parceria com o jovem Illyrio, evoluindo de um senhor dos ladrões para um ladrão de informações, cuja fama em descobrir segredos e espionar atravessa o Mar Estreito e chega aos ouvidos de um certo rei louco, e é assim que ele se torna Lorde Varys, a Aranha.

A maioria dessas informações são dadas no quinto livro, nas interações entre Illyrio e Tyrion. Sabemos que ao fim do terceiro livro Varys resgata Tyrion da morte e o coloca em um navio rumo a Pentos, livrando-o de ser executado pela acusação de ter envenenado Joffrey. Aparentemente Varys só liberta Tyrion porque Jaime o obriga. Mas, será mesmo que é só por isso? Ainda mais considerando que durante a fuga o anão aproveita para matar Tywin e sua prostitua Shae, o que é claro inicia a derrocada dos Lannister vista ao longo do quarto e quinto livros. Muito antes, nós vemos o eunuco "ajudar" Ned. Entretanto ele corrobora com alguma das mentiras de Mindinho (como a posse de um punhal usado por um assassino para tentar matar Bran Stark, alegando pertencer a Tyrion, cuja prisão por Catelyn - que tinha ido a Porto Real em busca da verdade e ouve tal mentira dos dois - desencadeia diretamente a Guerra dos Cinco Reis), embora aparentemente ambos façam seus próprios jogos. Além disso o vemos ter uma conversa com Illyrio em um canto escondido da Fortaleza Vermelha, que evidencia uma suposta conexão com Viserys e Dany. Por que tantas artimanhas?

Uma resposta fácil seria dizer que ele almeja o retorno dos Targaryen. Afinal de contas ele envia Tyrion a Essos para que este una-se a um mercenário e seu filho, Griff e Young Griff, e seus subordinados, e encontre-se com Daenerys - isso sem contar que foi ele quem sugeriu que Sor Barristan fosse demitido, o que leva o homem a buscar Dany por ser a rainha de direito. Mas como descobrimos através de Tyrion, Griff é na verdade Jon Connington, ex-Mão do Rei de Aerys II e um grande amigo de Rhaegar, e seu suposto filho é ninguém menos Aegon Targaryen, o suposto filho morto de Rhaegar e assim um candidato com mais pretensão ao trono do que Dany, por ser filho do primogênito do deposto rei louco. O anão convence o rapaz a ir para Westeros e aproveitar das ruínas da Guerra dos Cinco Reis para tomar o continente, ao invés de oferecer uma proposta de casamento a tia quando não tem nada a oferecer a ela além de sua pretensão. 

Será que isso estava nos planos de Varys e Illyrio? Ou melhor, será que estes dois têm os mesmos planos? Ao final da Dança o eunuco mata Meistre Pycelle e Kevan Lannister, este que estava consertando as burradas da sobrinha Cersei cometidas n'O Festim, sendo que tais mortes e as suspeitas advindas corroerão a aliança Tyrell-Lannister, preparando o terreno para que Aegon ascenda ao trono - o que acredito eu, irá acontecer.

Digo que a ascensão dos Targaryen novamente ao trono é uma resposta fácil demais porque há bastantes evidências ao longo do quinto livro de que Aegon é na verdade um Blackfyre. Na linha do tempo de ASOIAF, a Casa Blackfyre foi um ramo dos Targaryen que tentou ascender ao trono, provocando diversas guerras civis que assolaram Westeros ao longo do século anterior, com o último descendente da linhagem masculina tendo sido morto por Sor Barristan na Guerra dos Reis de Nove Moedas, ocorrida quarenta anos antes dos eventos da série terem início. A teoria afirma que a linhagem feminina sobreviveu, com a falecida esposa de Illyrio, Serra, sendo uma Blackfyre e Aegon filho dos dois. Isso sem contar que eles têm o apoio da mais renomada companhia mercenária do mundo, a Companhia Dourada, que foi fundada pelos Blackfyre. Apoiariam os mercenários um membro de uma Casa inimiga de seus fundadores? Embora eu ache essa teoria bastante válida prefiro acreditar que o rapaz é um legítimo Targaryen, apenas pra que o circo pegue fogo, hehe.

"Vermelho ou negro, um dragão ainda é um dragão" Illyrio em A Dança dos Dragões

Além disso, lembram-se da teoria sulista que apontei no post anterior? Um fator importante a se considerar é que na história sabemos que Varys sussurrava nos ouvidos de Aerys que Rhaegar pretendia destroná-lo. Estria ele alertando de uma provável conspiração ou apenas alimentando as paranoias de seu suserano para garantir o esfacelamento da Casa Targaryen? Outra coisa interessante: Embora Varys seja conhecido por não ser confiável, ele é a única pessoa que avisa o rei louco para não abrir os portões a Tywin, o que poderia ter evitado o Saque de Porto Real. Entretanto Aerys preferiu ouvir Pycelle, que no íntimo sempre foi um aliado dos Lannister. Cara, ASOIAF dá tantas voltas em sua cabeça, com mais e mais segredos e revelações que te deixam boquiaberto. 

No fim das contas tudo o que sabemos é que as teias estão lá, sendo tecidas brilhantemente ao longo dos anos. 


Conclusão e pensamentos finais

Há uma gama de personagens misteriosos e de intenções ocultas em ASOIAF - Euron Greyjoy, Melisandre, Qyburn, Quaithe, etc. Porém nenhum deles está tão relacionado às conspirações e maquinações políticas da série quanto esses dois, que são os favoritos de muitos, inclusive de mim.

Embora Mindinho e Varys sejam talvez misteriosos em proporções iguais talvez, Varys pra mim é muito mais sinistro. O epílogo da Dança, que é onde ele mata Kevan e Pycelle, mostra uma faceta sombria dele que não tínhamos visto nos livros anteriores. Isso sem contar o fato de que ele permaneceu escondido na Fortaleza Vermelha desde a fuga de Tyrion. Tendo conhecimento das passagens secretas do castelo, o que poderá fazer nos próximos livros? Por outro lado estamos vendo mais de Mindinho através dos capítulos da Sansa. Até que ponto chegará a relação dos dois? Eu aposto num forte envolvimento sexual, no fim definitivo da inocência da doce menina. Já foi dito que veremos um capítulo polêmico dela no sexto livro, mas qual será a polêmica? Sansa se tornará uma jogadora tão boa quanto seu tutor, e chegará a saber que ele traiu o seu pai? São muitas perguntas, e parece que só dois livros não serão suficientes para respondê-las.

Mas nós esperamos. Apesar de toda a demora, o resultado de saírem duas ou mais obras-primas é garantido se vindos da mão do todo poderoso Martin. 

sábado, 12 de outubro de 2013

Os aspectos da liderança - ASOIAF e as lições sobre o poder e governança pt. 2.

[Contém spoilers d'As Crônicas de Gelo e Fogo. Você foi avisado.]

Bom, no post anterior usei as figuras de Daenerys e Tywin para fazer associação com o príncipe de Maquiavel. Aqui venho falar de uma das questões mais sensíveis e comentadas em ASOIAF: a governança por direito e legitimidade do poder. 

Tendo fugido de Westeros quando ainda era um bebê, tudo o que Dany sabe do continente vem de seu irmão Viserys, que gradativamente perde sua sanidade em suas tentativas desesperadas de retomar o trono que perdeu. Ao mesmo tempo em que vemos através da ótica de Ned Stark uma visão gloriosa do (ex)guerreiro Robert Baratheon que destronou o rei louco e assumiu o trono, a visão de Dany é menos favorável, vendo o homem como o "Usurpador" e Stark e Lannister como seus "cães". Afinal de contas os Targaryen reinavam há quase 300 anos e legitimamente o trono pertence a eles.

Será mesmo?

Rebelião de Robert: motivos e teorias

Essa ótica desfavorável à rebelião do Robert acaba sendo passada a muitos fãs. Afinal de contas, derrubar uma dinastia de quase três séculos não é de todo um ato nobre. E os motivos, serão? Considerando o quanto o reino estava em decadência por causa do péssimo reinado de Aerys após o rapto deste em Valdocaso (que é apontado como a gota d'água para sua loucura), o rapto de Lyanna Stark, noiva de Robert, pelo príncipe Rhaegar, e a subsequente morte de Lorde Rickard Stark e de seu filho mais velho Brandon pelas ordens de Aerys, parece perfeitamente sensato que tantos senhores tenham se unido  para derrotá-lo.

Lembremos que de início a intenção de Robert não era ser proclamado rei. Contudo ele foi visto como o mais apto para tomar o trono após a queda Targaryen, uma vez que tinha ligações coma  família pelo lado paterno, o que o tornava primo distante de Aerys e Rhaegar. Contudo, são justificativas pífias para legitimar um direito que poderia ser concedido a qualquer um naquele instante. E mesmo a vitória sobre os senhores do dragão não deu a Robert o que ele mais queria: Lyanna. Mesmo inconsciente de que ela possivelmente não o amava, a perda da amada se reflete em sua figura trágica, transformando o outrora invencível guerreiro num péssimo rei.

Mas... será que o rapto de Lyanna foi realmente o motivo para toda uma rebelião?

Parece-me cada vez mais claro, assim como a vários outros leitores, que vários senhores das Grandes Casas podiam estar envolvidos em uma conspiração secreta para derrubar Aerys muito antes do rapto da noiva de Robert Baratheon. Isso é evidenciado em momentos como n'O Festim dos Corvos onde um meistre aponta como a Cidadela esteve por trás da morte dos últimos dragões Targaryen, evidenciando que a ordem pode ser mais ativa no papel político de Westeros do que se pensa, e n'A Dança, onde a Senhora Dustin revela seu desprezo pelos "ratos cinzentos":

— Se eu fosse rainha, a primeira coisa que faria seria matar todas aquelas ratazanas cinzentas. Correm por todo o lado, vivendo das sobras dos senhores, chiando umas com as outras, sussurrando aos ouvidos dos seus
amos. Mas quem são realmente os amos e os servos? Todos os grandes senhores têm o seu meistre, todos os senhores de menor gabarito aspiram a ter um. Se não se tem um meistre, isso é visto como querendo dizer que se é de pouca importância. As ratazanas cinzentas leem e escrevem as nossas cartas, mesmo para senhores que não sabem ler, e quem poderá dizer com certeza que não estão a distorcer as palavras para os seus próprios fins? (...)

"Foi isso que aconteceu ao Lorde Rickard Stark. O nome da sua ratazana cinzenta era Meistre Walys. E não é inteligente o modo como os meistres respondem só pelo primeiro nome, mesmo aqueles que tinham doisquando chegaram à Cidadela? Assim, não podemos saber quem realmente são ou de onde vêm… mas se se for sufi cientemente decidido ainda se pode descobrir. Antes de forjar a sua corrente, o Meistre Walys era conhecido como Walys Flowers. Flowers, Hill, Rivers, Snow… damos esses nomes a crianças bastardas para as assinalar como o que são, mas elas são sempre rápidas a verem‐se livres deles. Walys Flowers tinha uma rapariga de Torralta como mãe… e um arquimeistre da Cidadela como pai, segundo se dizia. As ratazanas cinzentas não são tão castas como nos gostariam de levar a crer. Os meistres de Vilavelha são os piores de todos. Depois de Walys forjar a corrente, o seu pai secreto e os amigos dele não perderam tempo a despachá‐lo para Winterfell para encher os ouvidos do Lorde Rickard com palavras envenenadas doces como o mel. O casamento Tully foi ideia dele, não tenhais dúvidas, ele…"

Se ficar comprovado que a Cidadela manipulou os grandes senhores para fomentar uma rebelião contra Aerys, teremos muito pano pra manga. Espero que o próximo livro traga mais respostas.

De qualquer modo a inoperância do rei louco pode ser vista como uma justificativa para sua destronação? Consideremos que na linha do tempo houve um precedente "legal" para a escolha de um rei sem os termos de sucessão. À morte de Maekar em 233 DP (Depois do Pouso), um Conselho foi formado para eleger o novo rei. Acabou que este foi seu quarto filho, Aegon V, dito "O Improvável" por ser o quarto filho de um quarto filho. Creio que o objetivo fosse instaurar um novo Conselho que tirasse Aerys do trono e desse-o a Rhaegar (que supostamente podia estar envolvido na conspiração), mas os eventos subsequentes ao rapto de Lyanna levaram a uma mudança de planos. Enfim, fica claro que o direito de uma dinastia podia ser contestado em face de um mau reinado, como era o caso, uma vez que havia prerrogativas legais para fazer tais mudanças.

Mas quando se conquista, há realmente tanta importância a prerrogativas e direitos?

Afinal de contas, a quem Westeros pertence?

Muito se é criticado a Robert pelo que ele fez, afinal de contas ele "tomou o trono dos Targaryen que lhes era de direito e por isso quero que a Dany volte a Westeros e tome o que é dela com fogo e sangue!". Entretanto, será Robert tão diferente de Aegon I, o Conquistador, que com um pequeno exército e seus três dragões conquistou Westeros três séculos antes, unificando seis dos sete reinos em um só? Porque a atitude de Aegon é melhor vista do que a de Robert?

É uma ideia que tenho alimentado há algum tempo. Os feitos de Aegon são cantados e louvados, ao passo em que pedras e mais pedras são atiradas contra Robert - especialmente por muitos do fandom Targaryen. Não me levem a mal, curto demais os Targaryen e sou fã da Dany, mas é preciso abdicar do orgulho cego resultante do amor pelos personagens e raciocinar algumas coisas importantes. Veja bem, Robert tinha um precedente para sua revolta. Mesmo se a "conspiração sulista" for real, os senhores tinham um precedente de certa forma "justo" pra fazê-la. Mas, qual o motivo de Aegon? Por que fazer o que fez? Exatamente como Sor Jorah Mormont diz a Dany:

"Perdoe-me, mas seu antepassado, Aegon, o Conquistador, não conquistou seis reinos por direito. Não tinha direito sobre eles. Conquistou porque pôde."

Essa frase mata a charada toda. Na verdade invalida todos esses argumentos dela de que deve voltar a Westeros porque o trono é seu por direito. Até porque, quem se importa com o que ela está fazendo? Ok, temos os Martell que secretamente tem conspirado em favor dela ao longo dos anos, mas apenas porque Elia Martell, irmã do príncipe Doran e esposa de Rhaegar, foi estuprada e morta no Saque de Porto Real, assim como sua filha Rhaenys. Uma vez que seu filho Aegon foi revelado pra estar vivo e já está em Westeros pronto para tomar o continente, o apoio da Casa pode mudar. E ainda mais quando chegar a notícia de que Quentyn, filho de Doran, foi morto pelos dragões de Dany. Além disso, como expliquei no post anterior, talvez ela não seja a rainha que Westeros precisa agora, enquanto não adaptar-se inteiramente ao lema de sua Casa, "fogo e sangue". Se ela tomar o continente, será como uma conquistadora, e não como "a herdeira de direito".

"Westeros foi o reino do pai dela. Deixe que Meereen seja o seu." A Dança dos Dragões

Essa questão de direitos me parece bastante simples, não importa quanto as pessoas dizem que a Dany merece o trono por ter sido o pai dela. Robert não é pior do que Aegon, que não é pior do que os ândalos ou os primeiros homens. Esses povos foram invasores estrangeiros que invadiram o continente ao longo dos milhares, sendo responsáveis pelo quase extermínio dos primeiros habitantes de Westeros, os filhos da floresta. São esses os legítimos donos do continente, já que essa questão de legitimidade importa tanto.

A rígida justiça de Stannis e seus direitos

Uma vez que os filhos de Robert com Cersei Lannister não são realmente seus e sim frutos do incesto, o verdadeiro herdeiro dele é seu irmão Stannis. É claro, os prognósticos não lhe são favoráveis: seu caráter rígido e gélido inspiram pouco amor, sua justiça férrea não é bem vista por uma sociedade hipócrita e por vezes amoral, a mulher vermelha que o acompanha, a sacerdotisa Melisandre, é uma fanática religiosa que inspira tanto admiração quanto desprezo, e suas forças são ínfimas. Em muitos aspectos, Stannis é o espelho invertido de Aegon. Lutando ferrenhamente por seus direitos e disposto a trazer uma justiça violenta aos Sete Reinos, o que é claro lhe dá muitos inimigos. Um homem trágico, de um fim provavelmente trágico, mas nem por isso deixa de ser um dos meus favoritos.

A razão pela qual torço por Stannis é simples: ele é o rei de quem Westeros precisa. Acima de direitos, legitimidade e razões afins, sua noção prática e dura de justiça é a ideal para um reino que sangra por causa de jogos de poder de homens e mulheres inescrupulosos. Mais do que isso, ele é astuto e usa os recursos que tiver. Graças a Melisandre, ele tem consigo um apoio mágico/religioso deveras útil, embora questionável. Afinal de contas este é um homem justo, mas não é a justiça que encontramos no honrado Ned. Isso fica claro quando a sombra de Melisandre mata Renly, seu irmão caçula e que também tinha se lançado na disputa ao trono, no segundo livro. É um ato truculento e controverso, e não digo que concordo que tenha sido feito. Mas o próprio Stannis demonstra várias vezes que aquilo o marcou profundamente, e é algo que levará pelo resto de sua vida. 

Ainda mais inestimável do que o apoio de Melisandre porém, é o de Sor Davos, que serve muitas vezes como a bússola moral de Stannis. Graças a este homem é que ele entende que precisa lutar por seu reino, e por isso o vemos salvando a Muralha dos selvagens no terceiro livro. Na Dança ele não tem nem Davos nem Melisandre, mas continua em sua campanha para trazer o Norte à sua causa, e há de se dizer que ele tem obtido sucesso em sua empreitada, com Winterfell sendo o próximo passo. Acredito que a campanha de Stannis crescerá favoravelmente no próximo livro, mas isso significa que será ele o detentor do trono? Acho que não, por mais que isso me entristeça. No entanto, continuo na torcida por ele.

Mais do que o "rei ideal", eu vejo que o reinado de Stannis teria sido perfeito se ele e Renly tivessem unido suas forças. Sendo o primeiro um rei para guerra, ele certamente seria capaz de acabar com a Guerra dos Cinco Reis em pouco tempo com o apoio dos Tyrell e do irmão, e se nomeasse este como seu herdeiro poderíamos ver o caçula Baratheon usando suas habilidades diplomáticas e conciliatórias (uma característica mais comum a Robert do que a Stannis, certamente) para garantir a paz após a guerra, a calmaria que sucede sua tempestade, em seu reinado. A aliança dos dois seria fatal aos inimigos, e teria mudado muitos rumos. Mas nenhum estava disposto a ceder um pelo outro, tampouco se aliar, ainda mais com a questão de direito envolvida. Se tivessem olhado além do orgulho e de legitimidades desnecessárias... ah, como teria sido tudo diferente.

Conclusão e pensamentos finais

Enfim, fica claro que a posse do trono por razões legais é um aspecto muito frágil e controverso na saga. Uma vez que não há leis escritas em Westeros e sim um aparente "contrato social" estabelecido praticamente, torna-se quase que impossível determinar a legalidade daquele que se senta no Trono. Ainda mais considerando a situação atual, onde temos um pretendente Targaryen tomando as terras da Tempestade, Stannis no Norte e o filho de um incesto no trono, além das campanhas incessantes dos Greyjoy.

Quando me aventurei a tratar desse assunto me senti ambicioso e ousado. Até porque meu conhecimento de história é bom, mas nem de longe quanto alguns amigos e conhecidos meus, a quem devo muitas das impressões postas aqui. No mais, são ideias e concepções acumuladas por intermédio de conversas e reflexões, assim como leituras de teorias e tópicos de blog. Não é algo 100% original, mas aqui vão os devidos créditos.

E já que eu não tratei de tudo o que poderia tratar, o próximo post será sobre dois dos mais enigmáticos personagens da histórias: Mindinho e Varys. 

Os aspectos da liderança - ASOIAF e as lições sobre o poder e governança pt. 1.

[Contém spoilers d'As Crônicas de Gelo e Fogo. Você foi avisado.]

– Posso deixá-lo com um pequeno enigma, Lorde Tyrion? – não esperou resposta. - Numa sala estão sentados três grandes homens, um rei, um sacerdote e um homem rico com o seu ouro. Entre eles está um mercenário, um homem pequeno, de nascimento comum e sem grande inteligência. Cada um dos grandes pede a ele para matar os outros dois. "Faça isso", diz o rei, "pois eu sou seu governante por direito". "Faça isso", diz o sacerdote, "pois estou ordenando em nome dos deuses". "Faça isso", diz o rico,"e todo este ouro será seu". Agora, diga-me: Quem sobrevive e quem morre?
(...)
- O poder reside onde os homens acreditam que reside. Nem mais, nem menos.
- Então o poder é um truque de mímica?
- Uma sombra na parede - Varys murmurou. - Mas as sombras podem matar. E muitas vezes, um homem muito pequeno pode lançar uma sombra muito grande."

Esse interessante diálogo entre Lorde Varys e Tyrion Lannister no livro "A Fúria dos Reis" é decerto um dos mais interessantes de toda a saga d'As Crônicas. Nesta conversa, somos conduzidos à reflexão acerca do maior objetivo dos jogadores dos Tronos: o poder. Mas de onde ele emana? Como o eunuco afirma, ele emana de onde as pessoas acreditam que possa emanar. O poder, sendo tão mutável e variável, é obtido de diversos meios, da forma com o que convir. E isso é brilhantemente retratado na série, através da disputa pelo Trono de Ferro, do uso da religião como uma aliada, do caráter bélico dos dragões.

Mindinho: "Conhecimento é poder".
Cersei (após ordenar diversas ordens aos soldados, incluindo ameaçar matar Mindinho): "Poder é poder."

Temor e amor: os ensinamentos maquiavélicos sob a ótica dos governantes em ASOIAF

A Rainha Dragão, sua governança em Meereen e consequências

"É melhor ser temido ou amado?" Com essa pergunta, Nicolau Maquiavel oferece sua interessante, brilhante e singular visão sobre o caráter de um devido governante em sua magnum opus, "O príncipe". E é visível que Martin traz essa visão para dentro de sua obra, refletindo-a em duas figuras distintas: Daenerys Targaryen e Tywin Lannister. A primeira, pretendente de uma dinastia caída que almeja retornar a Westeros e tomar o que é seu "com fogo e sangue", e o segundo o Senhor do Rochedo e Mão do Rei dos reis Aerys II e de Joffrey I e Tommen I. 

Em seu processo de tomar Westeros Dany toma as cidades dos escravagistas, modificando todo um sistema baseado na escravidão há milhares e milhares de anos. Tais cidades, herdeiras do império Ghiscari (cuja relação conflituosa com a antiga Valíria, o império de origem dos Targaryen, é facilmente associada à Roma e Cartago no nosso mundo), se veem subservientes a esta nova dominante de diferentes formas. Em Astapor, ela reorganiza as lideranças e massacra os Grandes Mestres. Em Yunkai, ela poupa os Grandes Mestres em troca da libertação dos escravos. E em Meereen decide se tornar rainha. Até aí tudo bem, mas a final do terceiro livro começamos a entender as implicações de suas escolhas.

Isso é ainda mais explorado no quinto livro, "A Dança dos Dragões". Os capítulos de Dany neste livro têm sido alvo de diversas críticas, com muitos afirmando que trata-se de um retrocesso, que ela no livro apenas quer dar pro Daario (seu amante) que ela se revela uma terrível rainha. Confesso que pensava assim de certa forma no início, mas as releituras subsequentes me fizeram mudar meus pontos de vista. Não só as releituras, como principalmente um blog excelente chamado "The Meerenese Blot", que se dedica a desmistificar essas maldosas impressões, que cegam muitos leitores do verdadeiro objetivo de Martin com a personagem. Como o autor do blog afirma, a subtrama de Meereen serve para mostrar a luta de Dany contra si mesma. Por que ele afirma isso? Por causa de uma frase de Willian Faulkner que Martin leva como máxima na obra (e que já mostrei aqui em um post anterior sobre ASOIAF): "o coração em conflito consigo mesmo é a única coisa sobre a qual vale a pena escrever". 

Ao longo da Dança a personagem cada vez mais cede em favor de um reinado estável. Para evitar mais mortes pelos assassinos conhecidos como a Harpia, ela concorda em casar com um meereneense. Para garantir que não seja vista como uma estrangeira truculenta concorda que práticas na cidade, desprezíveis aos seus olhos, sejam retomadas. Para evitar a guerra contra os yunkaítas e tantos outros inimigos, concorda que a escravidão do lado de fora das muralhas de Meereen seja restabelecida. Como um dos personagens afirma: "aquele que ser o rei dos coelhos deve por as orelhas de abano". Dany sacrifica mais e mais de si mesmo, por mais relutante que esteja, em prol do que ela mais sonha: paz. Mas será isso suficiente? Até porque, quando ela sobe em seu dragão Drogon e some da cidade, a guerra se torna inevitável.

É interessante ver essa disparidade entre a Dany "conquistadora" da Tormenta de Espadas e a Dany" humana" da Dança dos Dragões, e é dessa suposta diferença que vêm as maiores críticas. Especialmente porque o sonho de muita gente é vê-la em Westeros. Só pra constar, esse não é meu sonho: quero vê-la erguer seu próprio império em Essos. Mas voltando ao assunto: essa suposta disparidade revela que Dany possui culhões pra ser esse governante cujo perfil é traçado por Maquiavel em "O Príncipe". Um governante ideal que inspira confiança e amabilidade aos seus súditos, capaz de atendê-los quando necessário e ser atento às suas necessidades, mas que também sabe como governar com mão de ferro e ser duro quando tem de ser duro, justo quando o momento pede justiça. Talvez a trama de Dany seja sobre amadurecimento do caráter ideal de governança, mas é fato que até agora ela tem se mostrado muito mais "amada" do que "temida". Isso é evidente em passagens como no primeiro livro onde ela tenta ser uma jovem de ser estuprada (o que em nada adianta, pois após a morte de seu marido Khal Drogo e a subsequente dissensão de seu khallasar a garota é estuprada e morta). Na Dança Dany reflete sobre os astaporis sofrendo da terrível doença chamada "égua descorada" que vêm até ela pedindo ajuda, questionando-se se não criou milhares de "Eroehs". Muitas de suas decisões que ela toma são moralmente questionáveis (assim como a de Jon Snow na Patrulha da Noite), mas quais alternativas ela tem, na verdade? Martin genialmente a põe em labirintos e lugares sem saída, fazendo com que ela tenha de tomar a decisão com menores riscos, mas não exatamente a melhor. E isso mostra como estar exatamente no topo do mundo não é bom quando milhares de vidas estão em suas mãos.

Se Dany ainda não foi lapidada para ser uma governante com mão de ferro, como pode ser a rainha ideal para uma Westeros que sangra e agoniza?

O Senhor do Rochedo, um rei oculto

Ao passo em que Dany é conhecida (e criticada) por sua piedade, tal característica definitivamente não é associada a Tywin Lannister. Poucos personagens são tão odiados e admirados em igual medida quanto ele, e confesso que não sei direito o que pensar deste homem. Se por um lado o odeio pelo tratamento frio e às vezes amoral que dá aos filhos (especialmente Tyrion), o admiro pela sua suprema inteligência e habilidade enquanto jogador. Tendo herdado o controle de sua Casa ainda jovem, Tywin governou com extrema mão de ferro para limpar o nome de sua família após a governança vergonhosa de seu pai Tytos. Com vinte anos ele destruiu os Reynes de Castamere que se sublevaram ao seu pai, o mesmo acontecendo com os Tarbeck. Isso o fez ser nomeado Mão do Rei por Aerys II, "O Rei louco". Quando fica claro que ele é quem governa os Sete Reinos com sua eficiência fenomenal logo a inveja do seu rei passa a acometê-lo (além do fato de que Aerys nutria desejos pela esposa de Tywin, Joanna - com a possibilidade de ser pai dos seus filhos, embora seja uma teoria na qual não acredito). Sofrendo com essa inveja insana por vinte anos, é de se entender porque Tywin reservou ao último momento a decisão de apoiar ou não Aerys na sua guerra contra o rebelde Robert Baratheon, gerando o saque de Porto Real e a morte do rei louco pelas mãos de seu filho Jaime.

Quando a série se inicia, toda uma visão negativa aos Lannister é formada na mente de muitos. Mas se não há vilões nesta série, por que os Leões do Rochedo são associados como tal? A subversão em nossas mentes é feita sutilmente pelo Martin ao longo dos livros, mostrando que estes personagens não são quem parecem ser na superfície. De fato, há uma passagem na Tormenta em que Kevan, irmão de Tywin, defende-o de forma emocionante e brilhante. Trata-se de um homem cruel, mas a vida o tornou cruel - tirando o resto de sua humanidade quando Joanna morre no parto de um filho anão. Sua "crueldade" em desprezar Tyrion, armar o RW, saquear a capital do reino e outros atos tão "vis" não diminuem sua inteligência soberba, que fazem dele um dos personagens mais fascinantes de toda a série.

"... Lembro-me da primeira vez que o meu pai me levou à corte, Robert teve de ir de mãos dadas comigo. Eu não podia ter mais de quatro anos, o que significa que ele devia ter cinco ou seis. Depois concordamos que o rei tinha sido tão nobre como os dragões eram temíveis. Anos mais tarde, nosso pai disse-nos que Aerys tinha se cortado no trono naquela manhã, e por isso a sua Mão tomara o lugar dele. O homem que tanto nos impressionou foi Tywin Lannister."”  Stannis Baratheon

Entretanto, é claro que estes atos vis e sua governança rígida fazem com que pouco amor seja inspirado por Tywin (não que ele se importe se as pessoas o amam ou não). Como o próprio Jaime reflete no Festim dos Corvos, mesmo no Oeste ele era mais temido do que amado, e as pessoas não haviam esquecido o Saque a Porto Real. Twyin foi o rei que Westeros precisava em tempos de guerra, e graças às suas estratégias a dinasta Baratheon-Lannister ainda se mantém no poder na série, mas por quanto tempo? Arrivistas e inimigos não faltam. Embora eficiente e indefectível na política, Tywin falhou como pai, e mesmo que seja compreensível que sua melhor parte tenha morrido com Joanna isso não o torna um patriarca melhor. Ele governou por intermédio de reis, e foi mais rei do que aqueles a quem serviu, mas talvez ainda não seja o governante ideal que Maquiavel teoriza, apenas nos tempos de caos como os vividos nos livros atualmente.

"Os homens são idiotas, Jaime. Até mesmo aqueles que nascem de mil em mil anos."  Genna Lannister sobre Tywin

Conclusão e pensamentos finais

Sendo o Senhor do Rochedo e a Rainha Dragão os dois lados da mesma moeda, pergunto: quem melhor governaria Westeros? É uma pergunta quase retórica. Por mais que eu seja fã da Dany, não vejo os Sete Reinos como o destino dela, e foram seus capítulos na Dança que me fizeram crer nisso. Twyin governou o continente por vinte anos, além do seu período como Mão de Joffrey e Tommen, onde praticamente conseguiu o fim da Guerra dos Cinco Reis com cartas e penas. Entretanto, ela ainda pode vir a ser uma governante que saiba transitar tranquilamente entre o amor e o temor quando cada um for exigido de si, ao passo que Tywin não tem mais essa chance.

No próximo post falarei acerca de uma certa teoria, dos direitos de governança e legitimidades.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A morte da infância.




Acho que assim como eu, muitos foram pegos de surpresa ontem com a mudança da vinheta da Sessão da Tarde. Não importam as justificativas, foi como dar um chute entre as pernas de sua própria infância. Para muitos, assistir aquela vinheta antiga aparecendo na tela da televisão era garantia de uma tarde maravilhosa, assistindo aquele clássico que, não importasse quantas vezes era reprisado, sempre assistíamos. Bons tempos, bons tempos. 

Infelizmente estes tempos não voltam mais.

A tevê aberta parece não dar a mínima pras crianças. Seja a Globo tirando a TV Globinho do ar em favorecimento ao "Encontro" de Fátima Bernardes ou SBT tirando Chaves da grade (Agora só passa de madrugada. Quem vai assistir Chaves de madrugada? Sonâmbulos?), só pra citar alguns casos. Sem contar que né, os desenhos de hoje são um poço de idiotice, que em nada se equiparam aos de antigamente. 

Eu diria que a programação da tevê aberta é um lixo em todos os sentidos. Não é todo mundo que pode ter tv a cabo (meu caso), aí temos de sofrer com o canal do boi. Oh vida. Programação decente? Isso non ecziste. Raramente se encontra. Pra um amante de música erudita como eu até que podemos encontrar algum programa voltado pra isso em alguns canais. Havia um programa (nem sei se ainda passa) na TV Brasil, chamado "Auto-Falante", que destinava a apresentar um ótimo lado da música brasileira, bem como da internacional. Mas estas são exceções num mercado superficial e tendencioso, uma mídia manipuladora e influenciadora que mais serve a moldar mentes de acordo com padrões no mínimo escusos. 

E é claro, uma geração de crianças sofre com essa absoluta e terrível falta de qualidade. Eu sei que estou soando um bocado saudosista aqui, mas os guris de hoje jamais saberão o que é acordar no sábado e assistir Looney Tunes no SBT. Aqui em casa, há uma preocupação nítida com a qualidade dos desenhos que minha irmã assiste. Até porque o que se vê hoje é uma clara "adultização" dessa faixa etária, um esforço dos meios de comunicação em conferir uma precocidade altamente prejudicial. Seja no comportamento, na relação com a tecnologia, nas ofertas de lazeres, o que se vê é uma tendência nojenta a criar um modelo de vida pra pequenos seres em formação. 

Parem com isso, já! Apenas... deixem as crianças em paz. Deixem-as crescer naturalmente, viverem suas infâncias como é o direito de todo infante. Dem-lhes um livro, deem-lhes um desenho bom, seja um pai presente, pare de terceirizar a educação do filho. Ensinem-nas no caminho que devem andar, para que não se apartem dele.