segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"I did it for me." pt.1 - Por que esta série funcionou tão bem.

[Atenção: tem spoilers de toda a série. Você foi avisado(a)]

A televisão e milhões de fãs estão órfãos após o término de uma das mais cultuadas e aclamadas séries de todos os tempos ontem. Encerrando uma trajetória de cinco anos, Breaking Bad incontestavelmente entra pro rol das melhores produções já feitas pra tevê em todos os tempos. Única em inúmeros sentidos, a série é um primor de roteiro, atuação, direção e outros fatores, e um só post não seria suficiente para descrever o seu brilhantismo. Acima de tudo, é a principal expoente do brilhantismo da tevê norte-americana, ao passo que o cinema carece de ideias originais.

Uma única história

Não são poucos os seriados que sofrem de uma queda abrupta de qualidade quando continuam para além do fim que deveriam ter (cof cof Supernatural cof cof). Porém Breaking Bad não caiu nesse erro, o que é um de seus méritos. Ainda que seu criador, o genial Vince Gilligan (cujo brilhantismo não posso medir em suas palavras) não tivesse concebido o final dela originalmente, esta é uma série com um claro início, meio e fim. Fluindo de uma forma orgânica ela encontrou nesse aspecto um de seus maiores méritos. 

Essa sua qualidade era notória nas seasons finales: ao passo em que em outras séries vemos o último episódio de uma temporada como sendo o encerramento de um ciclo que esta última representa, nela vemos um episódio como tanto outro, que mesmo oferecendo um artifício climático nunca era em demasia, tampouco grandiloquente demais como é de costume em seasons finales. Ao mesmo tempo nos fornecia o gancho pra próxima temporada, de modo a manter este fluxo ao qual me refiro. Tratava-se de uma história única, do primeiro ao sexagésimo segundo episódio.

Vince Gilligan, MacGuffins e significados

Acredito que há duas forças motoras por trás deste seriado: seu roteiro impecável e as atuações. Primeiro vou falar esta história concebida pelo Sr. Gilligan. Desde o início, com sua sinopse, sabemos que esta não vai ser uma série comum. Como o Érico Borgo do Omelete, a princípio muitos deviam imaginar o seriado como uma versão mais séria de Weeds, mas o tempo veio a mostrar seu verdadeiro valor. Há tantos elementos deliciosamente aproveitados ao longo das temporadas que é impossível não se espantar com a genialidade de Vince. O ursinho rosa da segunda temporada que é evocado ao final da quarta (numa cena bastante Duas Caras-esca), bem como o modo como que Walt indireta provoca o acidente de avião da segunda temporada. 

Vejo Gilligan como um fã de MacGuffins. Pra quem não sabe, "MacGuffin" é um termo cunhado por Hitchcock pra descrever um objeto ou um elemento que serve de mote pra história, seja de um filme ou de um livro ou, neste caso, de uma série. Um exemplo: o "Rosebud" de Cidadão Kane, a maleta de "Ronin". Este termo ganha diversas formas em Breaking Bad: pode ser a própria metanfetamina que o protagonista Walter White fabrica, ou o chapéu que ele usa quando assume a persona de Heisenberg, o ursinho rosa acima citado, o símbolo dos Pollos Hermanos, o livro de Walt Whitman... elementos carregados de uma simbologia ímpar, que refletem a própria temática da série e a natureza dos personagens e de suas ações.

Também vejo o nome dos episódios como sendo de bastante modo especiais. O da series finale, "Felina", é um anagrama pra "Finale", fim em latim (e confesso que me sinto burro por só ter percebido isso ontem). Mas também é Fe (ferro, o elemento predominante no sangue) + Li (lítio, usado pra fabricação de metanfetamina) + Na (sódio, presente nas lágrimas). Assim, refere-se a três elementos do episódio de ontem: sangue, metanfetamina e lágrimas. Mindfuck. Coisa de gênio. E é apenas um exemplo de como títulos simples como "Fly" ou "One Minute" podem resumir um episódio inteiro.

"Chemistry is the study of transformation..."

A escolha da química como a matéria que Walt leciona se revela bastante pertinente, uma vez que a própria matéria pode ser vista como um MacGuffin. Basta ver o que ele fala da disciplina no primeiro episódio da série:

"Química é o estudo da matéria, mas eu prefiro ver como o estudo da mudança. Pensem sobre isso: elétrons, eles mudam seus níveis de energia. Moléculas mudam suas ligações. Elementos, eles combinam e mudam seus componentes. Bom, isso é tudo da vida, certo? É uma constante, é um ciclo... é solução e dissolução, e de novo e de novo. É crescimento, depois decomposição e então transformação."



E como os caras do supernovo.net brilhantemente apontaram (http://supernovo.net/tv/8-coisas-para-lembrar-antes-do-final-de-breaking-bad/6/), este ciclo da química, da vida, é o ciclo de Walt - duas vezes. Falarei da persona dele no meu próximo post.

Conclusão e pensamos finais

Este foi um post dedicado a série em si, mas minhas palavras não são mensuráveis ao gigantismo e ao legado dela. Talvez eu possa ser apenas mais um de tantos que se tratarão a dedicar análises ao que Breaking Bad representou à mídia e o que a torna tão soberba, mas eu já estava interessado em fazer minha própria resenha quando ela acabasse há um bom tempo. Espero ter deixado minhas impressões de forma satisfatória, e no próximo post dissertarei acerca de Walter White. Ou seria Heisenberg?

domingo, 29 de setembro de 2013

Contagem regressiva.

Falta menos de um mês pra eu ir embora pra Aracaju. Dia 21/10, minhas aulas começarão na UFS, e eu já estarei instalado lá. Depois de 11 meses de férias prolongadas, do maior tempo de ócio que já tive ou terei em minha vida, finalmente abandonarei isso tudo pra voltar a estudar.

Eu não estou ansioso, acredite. Mas de alguma forma, me sinto perdido. Quanto mais perto está o fim dessas férias, mais eu presto atenção aos laços que formei aqui em Itapetinga. Às impressões que deixei ou estou deixando nas outras pessoas. Quando alguém diz "Não vá embora, Vini", por mais que ria e ache engraçado, no fundo é um pouco doloroso. E é divertido ver alguém dizendo "Vá embora, Chup! Não aguento mais ver sua cara, velho", porque no fundo eu desejo ir embora. Mas a contradição em mim se expressa quando ao mesmo tempo desejo não ir embora, não romper estes laços.

Sobre todos os aspectos, este foi um ano único em minha vida, um ano que não se repetirá. Graças ao blog, tenho não só "expurgado meu coração partido" como tomado mais e mais coragem de levar meus conceitos de vida e opiniões adiante, perdendo gradualmente a excessiva preocupação com o que as pessoas venham a pensar de mim. Isso significa a consolidação da minha fé, a qual tem buscado tornar menos legalista e cada vez mais empírica, um modelo de vida para outras pessoas. Em tese, tenho de ser exemplo se quiser a expansão da minha fé.

É um desafio levar a minha mentalidade a um lugar como a universidade, que é tida por alguns como expressão máxima da vida desenfreada e desregrada da juventude? É. Na verdade, um dos maiores medos é desviar de meu modelo de vida, no sentido da fé, da religião que sigo. Como ser quem sou em meio às festas, à bebedeira, a tudo aquilo? Terei um grande fardo pela frente.

Será uma vida muito diferente, esta minha em Aracaju. Como lidar com um mundo de responsabilidades e maturidade, quando tenho sido preguiçoso e acomodado ao longo de toda a minha vida? Falta de iniciativa nunca foi meu forte. Existe esse dualismo presente em minha pessoa: há um menino dentro de mim, imaturo, ingênuo, insaciável e um bocado egoísta; e um adulto, manifestado em uma sabedoria às vezes além da idade, no ar culto, na formalidade, nos conselhos dados. Uma hora alimento mais um lado, outra hora alimento mais o outro. Como viver em constante harmonia com eles quando tenho de crescer, se tornar um homem feito?

Mais uma vez recorro à frase de Fernando Pessoa: "Eu não sei o que o amanhã trará". Não tenho medo do começo das aulas, da vida na universidade. Tenho medo de falhar em minhas responsabilidades, nesse processo de crescer e amadurecer. Eu mentiria se dissesse que estou preparado, que sei de tudo, sei me virar. Não, não sei. Os anos de sedentarismo e acomodação revelarão seu peso lá em Aracaju. 

É crescer às duras penas ou falhar no processo. Queira Deus que seja a primeira opção.


sábado, 28 de setembro de 2013

Diminuído.

Estão zoando você, meu amor. Estão zombando do nosso relacionamento, porque foi virtual, porque tecnicamente pra existir tinha de ter havido um prévio contato físico, pelo menos.  Fazem piadinhas com seu apelido, printam nossos comentários, irritam-me de propósito, porque sabem que eu não gosto disso. Não respeitam a mim e a você, ao que tivemos, que embora tenha acabado deixou um legado e poderosos ensinamentos. 

O que eles entendem de mim? O que sabem sobre o que senti? Será que fui bem-sucedido em dizê-los que amei você mais do que amei qualquer outra menina em toda a minha vida, que mesmo separados por uma distância como esta entre Itapetinga e o Rio o que senti por você foi genuíno, real? Talvez não tenha lhes dado essa noção completa. Então parte do erro é meu, mas isso não minimiza a idiotice deles.

Por Deus, queria saber o que os motiva a me zoarem tanto. Será minha passividade, meu espírito de não-reação? Por que tem sido assim desde que era pequeno, desde o maternal, inclusive. Quer dizer, não sei se estas memórias que tenho daquele tempo são reais ou mera invenção da minha cabeça, mas de qualquer forma não são nada agradáveis. E ainda me chamam de chorão. Eu nunca derramei uma lágrima pelo que fizeram comigo. Nunca.

O problema é como me sinto diminuído perto dos meus próprios amigos. A amizade tem dessas coisas, mas eu sou do tipo que tende a supervalorizar o que fazem ou dizem de mal comigo. O que deveria ser uma brincadeira revela sequelas mais sérias. Eu sei que eu devia ignorar as idiotices deles, ligar meu "foda-se", mas simplesmente não consigo. Me importo. Faz parte deste meu espírito melancólico fleumático se importar com as opiniões negativas, mesmo que elas não sejam verdadeiras, muito mais do que com as positivas. Tenho dado atenção a isso desde sempre, e se fosse capaz de ignorá-las... ah, como minha auto-estima seria melhor. Mas não é. Ela é baixa, e ainda que vários zombem, façam piadinhas de mim, o único culpado por essa baixeza dela continua a ser eu mesmo.

Temo ser assim pelo resto da vida. O que preciso fazer? Cortar laços com meus próprios amigos pra não ser mais alvo das zombarias deles? Não acho que esse é o caminho. No fim, a mudança a ser feita é uma mudança interior, que preciso fazer em mim mesmo.

Mas de qualquer forma eu não permitirei que diminuam o que eu tive contigo, o que senti por você. Eu não sei dizer se este sentimento está morrendo, definhando dentro de mim, mas ainda que isso vem a acontecer eu me importarei sim com as resenhas deles. Nós acabamos, mas você continua a ser especial pra mim. Eu tirei lições valiosas de nosso curto e virtual relacionamento. Dizem que precisávamos desse prévio contato físico, do contrário nosso relacionamento não seria válido. Bom, aqui estamos nós pra provar que estão errados sobre isso. O legado dele não será maculado por meus amigos, quer eles respeitem isso ou não. Eu não serei permissivo sobre isso.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quem é este homem?

"A mente bíblica não é a que cita versículos, mas a que raciocina dentro dos parâmetros das Escrituras". [John Stott]

Como eu já apontei aqui no Blog, a Bíblia não é um livro pra ser lido apenas uma vez, tampouco de forma superficial. Possui tantas camadas, simbologias e significados ocultos que mesmo que a leiamos diversas e diversas vezes ao longo de nossas vidas ainda não a compreenderemos completamente.

Eu sei, eu sei. Dúvidas são inevitáveis, muitas vezes. Eu as tenho, confesso. Mas como comentei no meu post anterior tenho evitado ser essa pessoa legalista, que possui um conhecimento superficial das Escrituras, incapaz de explicá-la àqueles que me questionam os porquês da minha fé. Chega desse legalismo dentro da Cristandade; temos de voltar ao que Cristo nos ensinou. E é Dele quem vou falar.

Uma breve análise da persona de Jesus

Tenho relido a Bíblia desde dezembro do ano passado, e esta semana cheguei ao Novo Testamento. E é simplesmente incrível, indescritível, a figura deste homem.

Uma situação interessante que eu vejo é como muitas pessoas, mesmo não se denominando cristãs, ainda assim apreciam e respeitam a mensagem de Cristo, muitas vezes levando alguns de seus preceitos para suas vidas. Para alguns, ele era "apenas" mais um profeta. Lembremos que no tempo em que ele nasceu muitos outros profetas e falsos Messias existiam naquela região, levando suas próprias mensagens. Mas Jesus sempre se revelou diferente destes homens que intentavam ser aquele anunciado. Ele emanava uma autoridade que não podia ser encontrada em seus "sósias", oferecia uma libertação que ninguém mais podia dar, mudava a vida de cada um que o encontrava. Era impossível ser o mesmo depois que se encontrava com Jesus. É impossível ser o mesmo depois que se encontra com Jesus.

"E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos.
E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes.
Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento"

Mateus 9:10-13

O cumpridor da lei, não o revogador

Muitos argumentam que uma das incongruências da Bíblia reside no fato de que parecem haver dois Deuses nela: o vingativo e destruidor do Velho Testamento, e o piedoso e amoroso do Novo. Contudo, eis que lhe afirmo que este é o mesmo Deus. Não um Deus de várias facetas, que muda com o tempo, mas justo. Justiça não significa necessariamente piedade, mas sim fazer o que se deve fazer. Os judeus, enquanto seu povo escolhido, careciam de seu próprio território após os séculos no Egito e isso explica sua campanha militarista. Ainda assim é um assunto do qual tenho pouco entendimento, e acredito que um, teólogo responderia melhor essa questão. Um teólogo como John Stott, cujas singulares análises da Bíblia e do seu conteúdo muito tem me atraído sua atenção, uma vez que serve pra quebrar alguns "paradigmas" em relação ao que se há de entender da Bíblia.

É interessante notar que a despeito de seu caráter transformador, Jesus em nenhum momento está revogando tudo o que vimos no Antigo Testamento, mas sim ampliando a compreensão daquilo que vimos através dos profetas, dos patriarcas, juízes e reis. Isso é evidente nos dois mandamentos que ele nos dá: "Amar a Deus sobre todas as coisas" e "Amar ao próximo como a ti mesmo". Estes não são o 11º e o 12º mandamentos, tampouco substituirão os dez dados a Moisés, mas são a SÍNTESE destes dez. Você vê, do 1º ao 4º mandamento vemos a relação homem-Deus (sintetizadas em "Amar a Deus sobre todas as coisas"), e do 5º ao 10º a relação homem-homem (sintetizadas em "Amar ao próximo como a ti mesmo"). Se você é capaz de amar a Deus acima de tudo que há no mundo e de amar ao próximo sem os embargos do preconceito e do pré-julgamento, então pode obedecer aos 10 mandamentos, e fazer aquilo que a vida cristã exige.

"Amor é mais serviço do que sentimento." John Stott

Pois onde estiver teu tesouro, ali estará teu coração.

Acredite que nada resume tão bem não só o ministério de Jesus como a mensagem da Bíblia em geral como o Sermão do Monte. Esta é a síntese, o coração do Evangelho. Eu me encanto e surpreendo cada vez que o releio, até porque está aqui meu versículo preferido da Bíblia e uma máxima da minha vida, este que dá nome ao subtítulo do post. 

Engraçado que a primeira vez que li esse versículo não foi na Bíblia, e sim em Harry Potter e as Relíquias da Morte, quando Harry e Hermione visitam Godric's Hollow e visitam o cemitério. Este é um dos dois versículos lidos nos túmulos; o outro é "Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte" (I Coríntios 15.26). 

De alguma forma ambos os versículos passaram a ter um significado especial em minha vida, mas o motivo pelo qual Mateus 6.21 se tornou o meu favorito foi por causa do seu significado extremamente forte. Quer dizer, aonde temos depositado nossas esperanças, nossos sonhos, a nossa alma? O que é realmente importante pra nós? É um assunto que trabalho constantemente aqui no blog, essa questão de valores, e só tendo esse versículo como base poderia fazer um post só sobre ele. Ei, talvez o faça!

Mas essa é apenas uma das incontáveis pérolas que Jesus nos dá ao longo dos capítulos de 5 a 7 de Mateus. O que ele está fazendo é justamente desafiar o senso comum vigente na época e vigente até hoje. É um Evangelho desafiador, este: que nos desafia a não revidar, a fazer o bem pelo bem, e não pela arrogância, a amar nossos inimigos. "As pessoas boas amam seus inimigos", dizia Seu Madruga. E de onde você acha que ele tirou isso? A autoridade de Cristo em sua mensagem é evidenciada diversas vezes nos Evangelhos, como ao final do Sermão:

"E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;
Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas." 
Mateus 7:28-29

Conclusões e pensamentos finais

Jesus enfrentou de cara um sistema corrupto, hipócrita e materialista, que estava deturpando as palavras do Pai. Ofereceu ensinamentos valiosos e transformou toda a humanidade. Como ele mesmo disse, a misericórdia lhe era mais aprazível do que sacrifícios e libações como que o povo fazia nos tempos do Velho Pensamento.

Hoje em dia, o que são esses sacrifícios e libações que têm ocupado o lugar da misericórdia? Quer dizer, o quanto nos distanciamos daquele Evangelho pregado por Cristo, filho de Deus. Quais são os caminhos que temos tomado pensando que nos conduzirão à salvação, quando estamos nos esquecendo de que há apenas um caminho? Por isso volto mais uma vez às palavras sábias de John Stott, que disse acerca de sua conversão:

"Aqui, então, é a questão crucial que temos que chegar. Será que já abrimos nossa porta para Cristo? Será que já o convidamos? Essa era exatamente a questão que eu precisava ter colocado para mim. Pois, intelectualmente falando, eu tinha acreditado em Jesus durante toda a minha vida, mas do outro lado da porta. Eu tinha regularmente me esforçado para dizer minhas orações pelo buraco da fechadura. Eu até tinha empurrado tostões por debaixo da porta, em uma vã tentativa de acalmá-lo. Eu havia sido batizado, ia à igreja, lia a Bíblia, tinha altos ideais e tentava ser bom e fazer o bem. Mas o tempo todo, muitas vezes sem perceber, eu estava segurando Cristo no comprimento do braço, mantendo-o fora. Eu sabia que abrir a porta teria conseqüências graves. Estou profundamente grato a ele por permitir-me abrir a porta. Olhando para trás agora em mais de 50 anos, percebo que esse passo simples mudou todo o curso de direção e a qualidade da minha vida." 

Este tem sido o meu objetivo: voltar a esse Evangelho Jesuíta, afastando-me desses excessos que acometem o cristianismo hoje em dia. Sem esse movimento "gospel" que em nada fala a e sobre Deus, sem esses mercadores da fé, sem esses falsos profetas. Disse o sábio Marcos Almeida, a quem tanto admiro: "A utilização do 'sagrado' para fins comerciais, no final das contas, promove a banalização da vida humana. Não tente vender aquilo que não tem preço". 

Não deixarei de me envolver quanto a liturgia do culto, mas sei que não é ela quem me salva. É a graça irrefutável de Cristo, da qual jamais fomos merecedores mas que ainda assim nos é dada. Continuarei a ter como maior exemplo este homem que maravilhou a muitos e continua a maravilhar e transformar, mesmo em tempos tão árduos para seus seguidores. O mundo passará, mas sua Palavra não passa - é viva, eterna e eficaz. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Protestantismo, a piada pronta.

Porquês

Cá estou eu navegando pelo Facebook quando me deparo dentre as sugestões de grupos para se entrar uma para um chamado "evangélicos que gostam de sexo". Na verdade esta não é a primeira vez que ouço falar desse grupo, mas essa sugestão escabrosa me deixou sem palavras. Especialmente porque reflete uma tendência de comportamento vista dentro da própria religião evangélica.

Mais do que tudo, reflete a piada que os evangélicos - cristãos, em geral - se tornaram. Conveniente torcendo seus próprios ensinamentos acabaram por perder a moral que um dia talvez tiveram. Falo isso porque críticos ao cristianismo sempre existiram, mas hoje em dia eles têm mais argumentos. Quando devíamos ser mais fortes somos mais fracos e alheios à nossa própria crença. Somos uma vergonha. 

"Tenho tantas perguntas para suas respostas..."

A realidade da região cristã é bastante deplorável hoje: temos vivido uma religião legalista, de argumentos fracos, desrespeitosos, muito geralmente inválidos. O que eu tomei como base pra minha vida é justamente de ir a e encontro dessas verdades pré-reformuladas, mais de autoria da própria Igreja do que da própria Palavra. Nem preciso citar a questão da conveniência e da deturpação do que há na Bíblia, mas vejam este texto como uma extensão do meu texto "Religare".

O caminho para realmente chegarmos à essência da Bíblia é ainda tremendamente longo. Nosso destoamento das verdades divinas se revela na nossa intolerância para com o outro, para com a fé do outro. Por isso realmente achei tão pertinente o texto do humorista Gregorio Duvivier intitulado "A religião dos outros". Com muita ironia ele retrata justamente essa intolerância religiosa, praticada em sua grande maioria pelas religiões abraâmicas - ou até mesmo umas contra as outras. 

"Tem que rir das religiões menores, as religiões de preto, de judeu. Não tem graça rir da fé da maioria do povo brasileiro. Acho que é isso: quando eu digo religião, eu tô falando a religião da maioria. Aí é que perde a graça.

Sim, por acaso essa é a minha religião. Tá bom. Quando eu digo que não pode brincar com religião, eu tô falando da minha religião. A minha religião não tem a menor graça." 

Como podemos mudar o mundo e querer o respeito se não nos damos o respeito, envergonhamos esta fé que para muitos é puramente nominal? 

Um grande exemplo contra este legalismo

Já devo ter expressado minha grande admiração pelo Papa Francisco algumas vezes aqui no blog. Pois bem, ontem ele me deu mais motivos para admirá-lo e respeitá-lo. Um jornalista italiano, Eugenio Scalfari, ateu e iluminista, escreveu duas cartas no jornal do qual é fundador e colunista intituladas "perguntas de um não crente ao papa jesuíta chamado Francisco". A resposta do papa é simplesmente fenomenal. Refletindo sua simplicidade e o extenso conhecimento, ele convida o jornalista a um diálogo aberto entre crentes e não crentes, oferecendo respostas sinceras e respeitosas, mas acima de tudo sábias, às perguntas que Scalfari lhe fez. Aqui vai um pequeno excerto da carta-resposta que ele escreveu:

"A fé, para mim, nasceu do encontro com Jesus: um encontro pessoal, que tocou o meu coração e deu uma direção e um sentido novo à minha existência; mas, ao mesmo tempo, um encontro que se tornou possível pela comunidade de fé em que vivi e graças à qual encontrei o acesso ao entendimento da Sagrada Escritura, à vida nova que flui, como jorros de água, de Jesus através dos sacramentos, à fraternidade com todos e ao serviço dos pobres, verdadeira imagem do Senhor. Sem a Igreja – creia-me! –, eu não teria podido encontrar Jesus, embora ciente de que este dom imenso da fé está guardado em frágeis vasos de barro que é a nossa humanidade.
Ora, é precisamente a partir desta experiência pessoal de fé vivida na Igreja que me sinto à vontade para perscrutar as suas perguntas e procurar, juntamente com o senhor, as estradas ao longo das quais possamos talvez começar a fazer um pedaço de caminho juntos."
O que está sendo dito aqui é nada mais do que tenho passado a defender em minha vida: uma resposta satisfatória, congruente com os ensinos da Palavra, simples e tão sincera. Sem legalismos! Mais do que isso, a postura do papa nos convida a refletir enquanto cristãos, não importa se é católico, evangélico ou o quê. Eu não estou vendo esse tipo de postura como a dele dentro do protestantismo! Ao invés disso há o preconceito, que nos cega a ponto de não nos fazer ver que o fato deste homem ser de uma denominação diferente nada importa, mas que ele pode estar sendo sim usado por Deus para nos dizer algo. Quão difícil é para nós, ó detentores da verdade absoluta, enxergar isso? O quanto eu seria julgado dentro do meu contexto religioso apenas por pensar dessa forma?
Conclusão e pensamentos finais
O protestantismo não tem seu nome à toa. Foi a alternativa, a resposta à corrupção da Igreja Católica que permeou a Idade Média e Moderna. E hoje, no entanto, de que meio religioso advém os maiores casos de corrupção, de desvio de dinheiro? Qual a bancada conhecida mais pelas suas posturas sensacionalistas do que por projetos de leis concretos que realmente visam beneficiar a população? Que é alvo de chacota, que se faz indigna de respeito, que escreve com seu próprio sangue o fim de sua história?
Eu não tenho vergonha do Evangelho em que tenho crido. Mas tenho vergonha das pessoas que não medem esforços, mesmo involuntariamente, em tornar este Evangelho fonte de piadas. Acordem pra realidade, olhem pra si mesmos! O Deus de quem tanto falam e se orgulham em crer realmente está satisfeito com suas condutas?
Mas eis que chegará o dia em que todos prestaremos contas ao Pai.

Ps.: estes são os links dos dois textos que mencionei no texto:

O do Gregorio: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2013/09/1345887-a-religiao-dos-outros.shtml

A carta-resposta do papa Francisco: http://textosparareflexao.blogspot.com/2013/09/a-surpreendente-resposta-de-papa.html

domingo, 22 de setembro de 2013

Tempos idos.

Sentiram saudades do blog nesses dois dias sem posts? Não? Tudo bem.

Estava ocupado, tendo vida social. Noooossa, nem é do meu feitio, né? Eu sei. também estava assistindo "Breaking Bad", perdendo a cabeça com essa série maravilhosa (sobre a qual ainda vou fazer um post ou vários para analisá-la). Mas enfim, reencontrei os amigos,  saí com eles, bati aquela velha resenha, visitei a antiga escola, matei um bocado a saudade.

Deus, como isso faz bem. É até bom sair da frente da tela de um computador pra se divertir, sabe? Dentro de seus parâmetros, é claro. Mas cara, foi bom fazer isso e estar de volta, como se fossem os tempos do colégio, ver que certas amizades não morrem, independentemente da distância, do quanto as pessoas podem mudar.

Mas não é só isso. Há um valor especial nesses reencontros que eu não seria capaz de descrever em palavras. Me faz relembrar esse período de 2010 a 2012, os dias do Ensino Médio, onde tantas coisas aconteceram comigo, onde mudei - para pior e para melhor. Mas acima de tudo onde formei laços inextinguíveis, relacionamentos que você sabe que quer levar pelo resto de sua vida. Não importa onde esteja, não importa quem venha a ser - saber que em algum lugar há um amigo, um velho amigo, isso importa e muito. 

É algo que não morre.

Minha facilidade de se relacionar, estranha e belamente em contraponto com minha introspecção, me faz criar laços de forma extremamente duradoura. Foi como meu professor de artes me disse: eu sou um cara sistemático, mas ao mesmo tempo passional. Significa que, embora eu seja receoso de se aproximar de uma pessoa e conhecê-la melhor - com a unanimidade dos casos sendo das pessoas se aproximarem de mim -, uma vez estabelecido um relacionamento com ela, ainda que no mínimo cordial, me devoto a este num extremo sentido de lealdade. Literalmente, mergulho de cabeça num relacionamento de amizade, num sentido de da minha parte estabelecer laços duradouros.

É engraçado, e ao mesmo tempo trágico, essa coisa da gente tantas vezes só ter uma noção de como algo foi valioso depois que deixamos de tê-lo. No caso de muita gente, assim como eu, bradamos aos quatro ventos o quanto desejamos que a escola acabe, apenas para que depois, quando acabar, reclamemos dessa saudade. Saudade das conversas, das tretas, dos professores (mas não todos), e acima de tudo, do companheirismo.

Vi minha sala de aula ficar dividida durante um período de cerca de um ano. Eu era um dos pouquíssimos que transitava tranquilamente entre os grupinhos, sem necessariamente ser acusado de pertencer a um. Minha postura neutra já é muito conhecida, é algo que pretendo manter pelo resto de minha vida. Por isso me irritava e entristecia ver brigas sem sentido. Mas a Gincana - ou melhor, nossa vitória - nos uniu. Por um objetivo em comum velhas inimizades foram esquecidas, mas acima de tudo foi bom ver que aquelas rixas podiam ser deixadas de lado. Não que os relacionamentos fossem perfeitos, apenas que o clima nos últimos meses de aula foi bem melhor do que nos tempos da treta. Não foi tarde demais, e por isso eu disse o que disse antes do resultado da gincana sair: "ainda que a gente perca essa gincana, já terá valido a pena porque nos unimos".

Olho pra trás e me prendo a um saudosismo. Dez meses preso em uma rotina sedentária, vendo seus colegas partirem para cada um seguir seu próprio caminho. E em breve serei eu a trilhar essa nova etapa. Novos laços, novas pessoas em minha vida. Não sei como as coisas vão ser lá em Aracaju, mas o amanhã a Deus pertence, e vivamos dia por dia. Não há necessidade de se deixar ser tomado por tais preocupações.

É só uma questão de jamais esquecer aqueles laços que fiz aqui. Do valor dos tempos idos, do peso de cada amizade em minha vida.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Religere.

Religião =/= Religiosidade

Como um cristão, tenho observado constantemente através da internet o modo como a religiões tem sido abominada, perdendo espaço pra um secularismo cada vez mais crescente entre a sociedade. Já disse aqui e repito que esse processo tem sido agravado pela mácula que vários adeptos do cristianismo (de várias outras religiões também, mas vou focar ao cristianismo) tem deixado com práticas hipócritas e deturpadas, ao ponto de blasfemar o Deus em que creem com suas atitudes nada condizentes com o que afirmam seguir. A hipocrisia crescente, os escândalos comumente noticiados, a falta de compromisso com sua própria fé - todos esses fatores e outros mais corroboram para o cada vez maior distanciamento das pessoas da religião, que já é encarada como algo negativo. A simples menção dessa palavra já causa repulsa a muitas pessoas.

Porém, qual o significado da palavra "religião"? A Wikipedia define como "(...) um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativassímbolostradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana."

Sendo assim, o conceito geral da religião em muito difere da conotação pejorativa com a qual a palavra está sendo usada na atualidade. Daí vem este subtítulo. O que mata é a religiosidade. O fanatismo exacerbado, a mente retrógrada, a leitura dogmática e literal das Escrituras (um erro se tratando de um livro de múltiplos significados e interpretações), a interpretação moldada às conveniências pessoais, a hipocrisia pura e simples de fazer aquilo que se afirma ser errado - isso é religiosidade. E é o que temos visto nestes dias. Portanto, não confundam as coisas.

Religião=/=Pessoas


Eis o principal erro das pessoas: a generalização. Gente, isso é um saco. Alguém bem-informado e respeitoso com a crença alheia jamais vai afirmar coisas do tipo "crente é tudo chato", "huur duur alienados huur duur" e outros lugares-comuns. Não querendo bater na mesma tecla, uma vez que eu já desferi minhas críticas a neo-ateus, mas essa postura irracional e desrespeitosa não é exclusiva deles. 

O motivo principal pelo qual estou fazendo este post com esta temática advém do fato de esse assunto ter sido abordado brevemente numa conversa que estava tendo com meus amigos ontem. E um deles falou como a hipocrisia do povo de minha cidade o enojava, como isso o fez se afastar definitivamente de qualquer religião. Eu poderia ter lhe dito que ele estava confundindo as coisas, que a religião é algo maior do que as pessoas e que era um erro deixar disso por causa de indivíduos falhos, como se eles fossem o único motivo pra se seguir uma religião, mas fiquei calado. Geralmente as coisas mais difíceis de se dizer são as mais importantes.

Imutável, tão deturpável

Tudo passa; a Palavra permanece. Que a Igreja - quer seja ela a Católica ou a Evangélica - precisa entender o espírito dos tempos e realmente fazer mudanças dentro de suas próprias estruturas, é fato. Mas até que ponto isso esta em consonância com a verdade que afirmam pregar. Num tempo de conceitos tão relativos, como ensinar ao mundo sem soar dogmático, e acima de tudo ser capaz de impor o respeito ao que você crê? É por isso que acho que a maior transformação no sentido religioso vem do exemplo prático, da atitude.

"Actions speak a little louder than words" Petra

Mui me admira as atitudes do papa Francisco em relação a temáticas tão sérias que hoje permeiam o cotidiano do cristianismo como um todo - bebidas, aborto, homossexualidade. Significa que há espaço pro diálogo. Mas eu vos digo: a Palavra é imutável e eterna. Um livro pra ser analisado, discutido e lido por toda uma vida. Cada leitura pode lhe dar um significado diferente. 

Mas o que se vê hoje são as pessoas querendo forçar a Igreja a tomar atitudes que simplesmente vão de encontro à Bíblia, como se fosse a Igreja quem criasse aquele determinado conceito. Há deturpações e conveniências? Sim, há. Essas devem ser combatidas. Mas será que temos que chegar ao ponto de se criar coisas do tipo "Bíblia gay"? Sinceramente, tais deturpações me enojam. 

Que os homossexuais tenham seus direitos assegurados pelo Estado Laico, isso eu concordo. Mas que não venham para dentro das igrejas querendo alterar passagens bíblicas para se justificar. A própria Palavra condena veementemente aqueles que a alteram para seus próprios benefícios, seja adicionando, seja retirando.

"Não ensine seu filho apenas a ler. Ensine-o a ler e a questionar o que ele está lendo" George Carlin

Conclusão

Num mundo utópico, as pessoas se disporiam a ler a Bíblia antes de quererem atirar suas pedras, dispondo-se a tentar compreendê-la. Num mundo utópico, não haveria esse mercado da fé, com mercadores oferecendo milagres e lucrando em cima da ingenuidade alheia para construir seus impérios nada divinos. Num mundo utópico, o direito do livre arbítrio seria usado com sabedoria, as pessoas realmente se importariam umas com as outras e não seriam tão fúteis. Num mundo utópico as religiões cumpririam eficazmente seu papel de religar o homem a Deus.

Esse mundo não existe. Mas eu creio que Deus exista. E estou preparado pra ser julgado por isso pelo resto de minha vida.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lições que a morte nos ensina.

A morte é meu grande temor.

Na infância fui acometido deste medo de uma forma bastante opressora, não raramente acordando em desespero no meio da noite após sonhos (ou pesadelos) onde imaginava o fim de minha vida. Além disso, outra ideia macabra - esta enraizada na minha educação cristã - me atemorizava: o Julgamento Final, o "assustador" Apocalipse. Não conseguia conceber a ideia de um infinito, da vivência em um novo Céu e uma nova Terra pelo resto da eternidade. Parecia... estranho. Mesmo depois de crescido são ideias que me confundem, e se me pego a pensar excessivamente na morte me vejo novamente como antes: desesperado, assustado, sem ar.

Faz cerca de um mês e meio que meu tio-avô Ijanai faleceu, aos 78 anos, em decorrência de uma série de fatores, em especial um tumor. Apesar de bastante debilitado ele não deixou de fazer aquilo que era uma de suas grandes paixões - pregar o Evangelho. Lembro-me de que um dia fizemos um culto doméstico em sua casa e no momento da oração todos demos as mãos, e eu peguei na sua. Senti-a trêmula, frágil. Aquilo me tocou de uma forma bem mais marcante do que eu poderia imaginar. Me fez pensar na própria fragilidade da vida, em como esta é efêmera - e em como a desperdiçamos com tantas banalidades. A iminência da morte (mesmo que não a sua) acaba se revelando uma experiência catártica.

E umas duas semanas depois da morte dele meu tio Beto, irmão do meu pai, faleceu aos 45 anos em decorrência de um ataque cardíaco. O que provocou esse ataque, eu não sei dizer. Mas meu tio sempre teve problemas com bebidas e drogas, e  temo que isso tenha influenciado de alguma forma em sua morte. Isso é triste, porque boas referências não faltaram a ele. Eu não era íntimo dele, mas mesmo assim a perda de um parente sempre é lastimosa. Por não ser íntimo não poderia dizer que o conhecia tão bem e tampouco julgá-lo de acordo com o que fez. Mas não é fácil lidar com esses problemas dentro de sua família. 

Dessas duas pesarosas mortes eu tiro a seguinte conclusão: estes dois homens eram duas faces da mesma moeda. Não posso falar por eles a respeito das escolhas que fizeram, dos erros que cometeram, de quem no íntimo eram. Mas posso dizer que em morte me ensinaram certas coisas, por mais trágico e triste que tenha sido esse meio de ensinamento. A principal delas é a vigilância que preciso manter sobre as condutas que tenho (ou afirmo ter), até porque como já mencionei antes aqui no blog o mundo lá fora está com as pedras na mão, pronto para lançá-las em você se der um escorregão. E se você afirma pertencer a um credo religioso, a voracidade para atirá-las em você é ainda maior. Os "sepulcros caiados" estão por aí aos montes, os juízes. 

"Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho de seu irmão." Mateus 7.5

A hipocrisia deve ser um mal inerente ao ser humano, mas a futilidade não é. Prova disso são pessoas que vivem tão bem e felizes mesmo tendo tão pouco. Não vou ser hipócrita aqui e dizer que ter bens materiais não é satisfatório e prazeroso, convocando todos a um desapego geral, mas está óbvio o quanto o homem se tornou escravo de suas próprias criações, preso a uma mentalidade materialista e fútil. Nosso deus é o dinheiro e nossos santos são consequentemente tudo o que ele pode comprar.

Nesta incessante busca pelo que nos satisfaça em nossas vidas acabamos trilhando caminhos arriscados e muitas vezes sem volta. Tentamos desesperadamente viver pelas regras deste mundo e de uma forma tragicamente irônica acabamos nos esquecendo de nossas próprias vidas. E enfim a morte chega, implacável, infalível. Num momento em que é tarde demais.

Não permita que seja tarde demais.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sete meses.

It's over. Acabou.


Por Deus, como é boa a sensação de dizer isso depois de sete meses encarando um dos períodos mais árduos que já enfrentamos em família. Quem poderia dizer, lá em fevereiro, que essa reforma demandaria tanto monetária e psicologicamente de nós. Que encararíamos tantas dificuldades, crises e quebras de confiança. Ah, só Deus sabe o que meus pais encararam. Falo dos dois porque foram os protagonistas dessa dolorosa e difícil história. Uma história com um final feliz, mas com algumas pitadas agridoces.

Minha casa é um sobrado, cujo térreo são os escritórios de contabilidades do meu avô  e do meu tio, o primeiro andar era a casa do meu avô e o segundo a nossa casa. As origens dessa reforma remontam ao falecimento de minha avó, em 2008. Minha mãe decidiu que era melhor ficar mais perto de meu avô a fim de poder cuidar dele, e enquanto inicialmente a intenção era vender esta casa e comprar outra, no fim a ideia da reforma acabou prevalecendo.

Ah, se soubéssemos o quanto isso nos custaria.

Basicamente, sofremos nas mãos de profissionais sem caráter, alguns tendo abandonado a obra no meio dela. Os gastos foram muito maiores do que inicialmente se pensava, o que é uma coisa comum nesse meio, mas por Deus, este foi o ano mais difícil que minha família já enfrentou financeiramente falando. Minha mãe chegou a parar no hospital com uma crise de gastrite, e eu tenho a firme convicção de que ela foi resultado do stress causado por todas as agruras desta reforma.

Eu paro e penso: por que meus pais tinham de passar por isso? O que eles fizeram pra merecer tanto sofrimento assim? Não querendo dramatizar as coisas como se fosse uma novela mexicana, mas foi muito difícil ver como padeceram diante de tanta desonestidade e surpresas desagradáveis. E olhando em retrospecto não tenho orgulho de muitos comportamentos que demonstrei nesse período. Quer dizer, eu poderia ter sido mais compreensivo e prestativo com eles, ajudando mais ao invés de me manter em minha confortável redoma de vidro. Altruísmo e boa disposição nunca foram qualidades minhas. Mas enfim.

O término dessa reforma (não total, ainda faltam alguns detalhezinhos aqui e ali) merece um culto de agradecimento por si só, e é o que faremos. Porque, apesar de tantas adversidades, nossa fé nunca foi perdida, embora não raramente abalada e questionada. Ver que esses dois ainda estão de pé só me faz ter mais e mais orgulho deles. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Interlúdio-Paredes

"Alguém certa vez disse que 'nada grita mais alto do que o som do silêncio'. Acho que foi Nipsey Russell" Todo Mundo Odeia o Chris

Fiz esse blog para que pudesse expressar tudo aquilo que vinha silenciando dentro de mim por tempos. Apesar de que a ideia dele já vinha de uns meses, foi necessário um pontapé para que o criasse. Portanto, mais do que um espaço de divulgação de minhas opiniões a respeito das coisas do mundo e da vida, é o meu meio de expurgar um coração partido.

Mesmo depois de quase três semanas o sentimento ainda continua. Esse processo é longo, não tem data definida pra acabar. É tão estranho e novo... nunca passei por isso antes. Mas essa ligação que eu tenho com ela é inexplicavelmente forte. É como se eu tivesse conhecido meu oposto polar no universo, a pessoa que é o que eu não sou. Poderá haver ser humano mais diferente do que eu? Creio que seja impossível. Enquanto que isso foi o que nos atraiu tão intensamente foi o que nos separou, no fim das contas.

Eu já tinha comentado aqui no meu texto "Faróis" sobre o quanto os conselhos dos meus pais me ajudaram, a ponto de terem me dado uma paz interior que eu não encontrava desde o dia em que meu namoro terminou, mas acho que não dei a ideia geral do quanto suas palavras de sabedoria me marcaram - talvez só possa demonstrar isso vivendo-as, aplicando de forma a evitar dores em futuros relacionamentos. 

Mas por ora, tenho de aprender como fazer pra lidar com essa confusão pós-rompimento.

O mais engraçado de tudo isso é o ciúme. Deus, que sentimento desgraçado... no fim das contas, é bom a gente sentir ciúmes do amado(a)? Até que ponto isso revela falta de confiança, obsessão? Bom, no meu caso o sentimento era intensamente recíproco. E como aprendi, a lógica não é necessária para sentir ciúmes. Às vezes basta uma piadinha para que você suba pelas paredes.

No fim das contas o ciúme é a máxima expressão da permanência do sentimento. O indicativo de que você não ainda não lidou direito com a situação, mesmo quando aquela alma não lhe pertence mais. Parece idiotice dizer isso, mas em se tratando de idiotices eu realmente sou muito bom. Mesmo que estes dois caminhos fadados a não seguirem juntos, eles se sincronizam de forma perfeita demais para que ignorem um ao outro, mesmo sozinhos.

Às vezes, quando penso que estou progredindo, algo acontece e me faz voltar dois passos atrás. Na tentativa de se adaptar a esta nova realidade, a esta maldita sina que expressei em "Desta eterna luta entre o espírito e a carne", sofro alguns reveses. É compreensível que isso aconteça, mas ainda assim não justifica que me estagne. Mas posso dizer com franqueza que estou bem melhor do que antes.

E eu creio que no fim das contas meu coração estará em paz.

Sinceridade, simplicidade, entendimento.

(Resenha originalmente publicada no skoob)

Todas as pessoas merecem um livro com o qual se identifiquem, uma obra que adentre o interior de sua alma e os convide à reflexão. No meu caso esta obra é "As vantagens de Ser Invisível", porque é tão honesto, arrebatador, triste e divertido que definitivamente é uma das melhores leituras que já fiz.

Já tinha assistido o filme, e foi a maravilhosa experiência de vê-lo que me levou a não deixar de consultar o material original. Tão soberbas foram as atuações de Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller que eu não pude deixar de imaginá-los cada vez que via seus respectivos personagens fazendo alguma coisa no livro (um fator ajudado pelo fato da capa ser o pôster do filme, mania das editoras no Brasil).

É sempre um desafio transpor uma obra literária para o cinema, e este desafio é ainda maior quando o próprio autor o faz. Mas agora vejo que apenas Stephen Chbonky poderia fazê-lo. Afinal de contas, sua escrita é tão simples, intimista, transcendente e madura que não é difícil que nós nos sintamos como sendo o destinatário anônimo para quem Charlie envia suas epístolas. Ou, como outros usuários aqui apontaram, até mesmo o próprio Charlie. 

Por quê? Porque, como tantos outros livros juvenis, e usando aquele linguajar despojado e carinhosamente simplista, "As Vantagens de Ser Invisível" trata de temas caros à nossa geração, diversos estados de espírito com os quais adultos e adolescentes se identificam: o peso e a intensidade dos sentimentos, o preconceito, a sexualidade, as drogas, a necessidade de aceitação, a dinâmica dos relacionamentos, a introspecção. Esta última foi a que me fez "clicar" com esse livro. Até hoje meus pais reiteram como na minha primeira infância tinham de ir ao meu berço e verificar se eu ainda estava vivo, pelo fato de que eu não emitia som algum. Nem ao menos o choro: quando o fazia, era um som baixo, quase inaudível.

Por isso, quando protagonista se vê e é visto como um "invisível", eu entendo como ele se sente. E esse e outros motivos é que tornam esta obra tão especial. Era o livro direcionado a minha faixa etária que eu estava procurando. Espero que você encontre o seu,e caso o tenha encontrado, poderá entender como eu me sinto.

Com amor,
Vinícius 

Ps.:Eu tenho de dizer: amei a citação a Dusk, do Genesis, dentre as "Músicas de Inverno"! *-* ! É uma canção tão doce, tão pastoral e linda, que sua mera referência se sobressai às tantas à literatura pop no livro e só me faz amá-lo mais e mais!

sábado, 14 de setembro de 2013

O Rock in Rio e o espírito comercial e mercadológico dos tempos modernos.



Eu não gosto da página "Attwhore", mas a crítica desse post é pertinente e me fez refletir bastante.

Mais uma edição do Rock in Rio, mais uma polêmica. Num primeiro dia onde o destaque foram duas grandes cantoras do pop, Ivete Sangalo (que inclusive cantou "Love of My Life" do Queen numa interpretação boa, até) e Beyoncé, o DJ David Guetta naturalmente aparecem os críticos apontando a grande questão: "Cadê o ROCK do ROCK in Rio?""Tire esse pop daí!" e outros jargões. Sim, estou dentre os críticos. Por que não? Agora, se você acha que isso me impede de fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o tema está enganado, meu amigo. 

Assim como está ligeiramente enganado se usa a desculpa do "rock significa agitar, não se refere ao gênero musical". Ok, pode até ser nisso que Roberto Medina pensou, mas não muda o fato - fato este brilhantemente observado num comentário que vi no facebook - de que a primeira edição foi sim um show de bandas de rock aliado a elementos brasileiros pop, como a MPB. O que se vê hoje é um evento pop onde o rock ficou em segundo plano.

Sempre fui um roqueiro. Não tenho vergonha disso, e não são pseudo-intelectuais que descem o pau (às vezes, merecidamente) nos pseudo-roqueiros da internet que vai me fazer abrir mão do estilo musical que me define. A grande questão aqui é que este evento está explorando a música das massas, e sempre foi assim desde sua primeira edição, porém o instinto mercadológico da indústria musical cresceu de uma forma tão exponencial nas últimas décadas que é óbvio que a atenção do evento passou a ser voltada a outros fatores.

Os anos 80 foram gloriosos pro rock em geral, especialmente diante do aprofundamento do heavy metal (concebido em fins de 60 e início de 70 e de início embebido no blues rock e no psicodelismo, pra então gerir seu próprio som) e do chamado rock "arena" ou "de estádio". É uma época em que eu queria ter vivido. Engraçado que meu pai me enganou por anos me dizendo que tinha ido ao Rock in Rio de 1985, e eu acreditei (nossa, como eu sou babaca, cara). Mas imagine um show em que tocam duas de suas bandas favoritas de TODOS OS TEMPOS, Yes e Queen. Além de outros nomes renomados, como Whitesnake e Iron Maiden (do qual eu não sou fã, mas reconheço seu papel pro heavy metal). Teria sido maravilhoso. Mas enfim, ainda faltavam 10 anos pra eu nascer então não há porque se prender a algo que aconteceu quando você nem era vivo. Voltemos ao hoje.

A questão é que a música se tornou um produto massificado e superficial, privilegiando as vendas em detrimento do conteúdo. Me refiro ao aspecto "cultura" aqui, porque esse é um tema sensível e gosto musical é uma parada pessoal demais, mas pra os que são contra os que dizem "funk não é cultura", penas pensem no seguinte: é saudável que um estilo musical e de vida que muitas vezes faz apologia a violência, a uma vulgaridade desmedida e a um viver totalmente supérfluo integre a tão rica cultura brasileira? Como isso reflete os padrões de nossa sociedade?

Mas é claro que porque Beyoncé dançou o "lek lek" ontem, tudo está bem. 

Aí, se eu não gostei disso os "pseudo-críticos" me esfolarão e me taxarão de mimizento. Eu nunca disse que estava mimizando, a questão é que o direito da crítica é válido a todos. E meus esforços aqui residem em apresentar uma crítica objetiva e inteligente, ao contrário de pseudo-roqueiros com suas opiniões superficiais e suas posturas arrogantes que têm mais é que serem criticados mesmos.

Uma vez que o pop é o centro das atenções da música, é inevitável que popstars virão para o Rock in Rio. Se o grande público ama a música eletrônica, então não há porque ficar surpreso com a presença de David Guetta. Isso sem contar o ecletismo dos outros palcos, oferecendo diversidade musical. Eu, se estivesse lá, me dedicaria a assistir as apresentações das orquestras Sinfônica Brasileira e Imperial, porque amo música erudita.

Se eu estivesse lá, o que mais assistiria?

Com certeza iria pra Muse e Alice in Chains, duas de minhas bandas favoritas da atualidade. E me dedicaria a Bon Jovi, Sebastian Bach e Dr. Sin, que embora não façam parte do meu rol de escutas tem minha curiosidade e respeito. Mas fora isso? Mais nada. Então me ateio a isso no sentido de que faz parte dos meus gostos, mas o resto de nada me atrai. 

Como é de praxe aqui no blog, uso elementos atuais pra fazer reflexos e reflexões sobre nossa sociedade. Então não adianta chorar, o Rock in Rio perdeu a sua essência, traindo sua própria proposta inicial - retratando o espírito mercadológico e massivo da indústria da música. No mundo utópico dos roqueiros, só rock tocaria lá. Agora deixa eu te dizer uma coisa: ISSO NUNCA ACONTECERÁ. Bem-vindo à realidade.




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Desta eterna luta entre o espírito e a carne.

Não pense que eu nunca desejei você, meu amor. Que eu era um frígido, incapaz de me sentir sexualmente atraído por uma mulher. Desejei você inúmeras e inúmeras vezes, amei o amor eros, do homem pela mulher. Ao contrário do que você pensa, eu não fui educado para apenas expurgar esses desejos de mim, porque eles ocorrem naturalmente com o tempo, são intrínsecos das pessoas. Mas uma máxima da minha vida é "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém". Não era questão de expurgar meus desejos, mas lidar sabiamente com eles e corrigi-los se eles interferiam na minha espiritualidade.

Deus, como as pessoas tem uma mente fechada a respeito da minha fé.

São os mesmos discursos, o mesmo blá blá blá, a mesma incompreensão de sempre. Conhecimentos pré-programados acerca do que um cristão faz, pensa. Essa ignorância não é melhor do que a do cristão intolerante para com as outras religiões. Um dos principais aspectos controversos é a respeito do sexo. O sexo, que é um fator santo dentro do casamento, o efetivamento de um compromisso diante de Deus. É uma coisa muito mais pessoal do que religiosa. 

O sexo, banalizado, generalizado, epítome da incessante busca pelo prazer nos tempos modernos. Que perdeu sua essência "santa" apregoada no cristianismo para se tornar o símbolo da carnalidade e da concupiscência humana.

Então é isso: sou conservador pra caramba aos olhos do resto do mundo e cada dia que passa esta escolha revela ter um peso ainda maior. Eu te digo, meu amor, que não me arrependo desta escolha e que não mudaria dela nem mesmo por você. Mas a minha mãe estava certa: se mantivéssemos nosso namoro e nos encontrássemos, ninguém poderia dizer o que ia acontecer entre nós dois. A saudade de um relacionamento a distância, associada a essa libido, resultaria em loucuras. O desejo de engolir um ao outro, uma paixão ardente, explosiva, matar todo o tempo sem se ver.

No meu íntimo, eu realmente pensei que você um dia deixaria de querer o sexo antes do casamento, mas era um sonho idiota e desrespeitoso. Idiota porque "o amor é uma coisa doce, mas não muda a natureza de um homem (ou mulher, neste caso)", e desrespeitoso porque era uma clara afronta ao seu livre-arbítrio, ao que você pensa a respeito do sexo. Eu não podia dar conta de tamanha paixão dentro de você, te desapontaria. Ou iria contra meus princípios e atenderia ao que minha carne tanto clamava.

Então, no fim das contas este era mais um ponto em que nós não concordávamos, mais uma razão pelo qual nosso relacionamento não iria pra frente. Talvez a questão mais sensível, onde nenhum estava disposto a ceder pelo outro. Eu te devo desculpas, de certa forma. Mas vendo alguns de seus comentários num post antigo me fez subir a raiva e vomitar essas palavras, num ato um tanto inconsequente, um tanto necessário. Como você mesmo disse, "talvez duas pessoas estejam destinadas a se apaixonarem, mas não a ficarem juntas no fim". É essa a nossa história. A nossa sina.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ritos da Introspecção.

Um breve estudo do eu

Gosto de ser tímido. Gosto dessa retraição que há em mim, da prevalência da introspecção. Permite-me um olhar clínico, observador, muito mais sincero. Quando tratei da minha baixa auto-estima em "Espelho, espelho, que trazes as mais doces ilusões" pontuei o quanto não sabia reagir diante de um elogio, a ponto de não conseguir formular palavras em certas situações e de ficar até mesmo enrubescido. Por mais que queira ser reconhecido pelo que faço (um ligeiro desvio de arrogância que sim, tenho), não sei como me portar quando me reconhecem por isso. Então qual não foi minha surpresa quando li esta matéria da SuperInteressante: "Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança". (link: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/pessoas-que-ficam-vermelhas-facilmente-sao-mais-generosas-e-inspiram-mais-confianca/)

A verdade é que eu sou confiável. Sei guardar um segredo. Sou daqueles que nunca chegará na pessoa pra firmar uma amizade, sendo que na maioria das vezes são as pessoas que se aproximam de mim. Sou cauteloso, por assim dizer. Mas uma vez firmada a amizade busco ser o melhor amigo do mundo e realmente me solto, no sentido de ser mais comunicativo e relacionável. Mas com desconhecidos? Ateio-me à minha velha amiga, a timidez.

A auto-crítica como um mecanismo de defesa

A leitura dessa matéria foi correlacionada a outra: "Como ser um tímido profissional" (http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/como-ser-um-timido-profissional/ utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super), onde era analisado o livro "Manual de Sobrevivência dos Tímidos", de Bruno Maron, além de uma entrevista fantástica com o autor. Quero ressaltar aqui um excerto de parte desta entrevista, onde ele diz algumas das melhores palavras que eu já li nos últimos tempos:

"A verdade é que por mais cuidadoso que você seja no exercício da crítica humorística, sempre haverá brecha para alguém te criticar. É muito conveniente você se abalar apenas com a sua autocrítica, acho isso covarde. Gosto quando alguém me aponta o dedo na cara e eu fico desconcertado por dentro. Ainda sim alguém pode dizer que eu digo que gosto de ser criticado pra disfarçar que eu não gosto de ser criticado. Percebe? Vira um fractal de cinismo… Sacanear a si e o mundo demandam uma honestidade absoluta."

Me identifico com essa passagem porque reflete justamente o ato da auto-crítica que faço comigo mesmo. Se eu me xingo, não me importarei caso alguém me xingue - ou assim creio. Criei esse mecanismo de defesa porque tenho de conviver com a zombaria e a zoação pra cima de mim desde guri. Sim, já sofri muito bullying, apesar de que minha situação nem se compara a de outras pessoas que chegam ao ponto de precisarem de terapia. Se foi um ponto crucial para o fato de ser uma figura mais fechada, não sei dizer. E como já disse aqui, sou dos que se importam muito mais com a crítica negativa (mesmo que dissimulada) do que com os elogios. Isso me corrói, no sentido de que graças ao meu mecanismo de defesa passei a criar uma opinião cada vez mais negativa de mim mesmo.

Uma admiração surpreendente

É engraçado como eu me tornei tão conhecido nestes últimos quatro anos. Certamente foi um processo onde bati de frente com a antissocialidade para realmente me tornar mais sociável. É simplesmente cômico (a meu ver) o modo como eu sou prezado por tantas pessoas. Fica meio difícil de falar as palavras que tenho pra falar sem o risco de soar um arrogante e orgulhoso, mas a verdade é que todo aquele "bullying" que faziam comigo impulsionou o conhecimento de meu nome. Ou melhor, do meu apelido. Você sabe qual é. Muitos que souberam quem eu era através das zoações de meus amigos passaram a saber  que eu fazia, no que eu cria, do que gostava. Isso levou a um respeito que eu não sabia ser capaz de adquirir.

Some-se a isso fatores como minha personalidade tipicamente neutra. Descobri em mim mesmo a capacidade de ser extremamente amigável, mesmo que não fosse o responsável por criar essas amizades - elas simplesmente surgiam. A capacidade de ser respeitoso com todos a quem conheço, esse ar introspectivo aliado a uma excelente retórica e uma personalidade meio "nerd" (apesar de odiar ser chamado de nerd), o meu caráter (excessivamente) formal - esses meus aspectos realmente chamam a atenção, para o bem ou para o mal. Quando mais discerno sobre isso mais penso que realmente não sou alguém muito normal. Tenho minhas falhas também, muitas conhecidas - as piores, escondidas -, então não sou nem de longe perfeito. Ainda bem.

A introspecção enquanto benefício

Eu realmente tenho orgulho de muitas coisas que sou, no sentido de que sempre diferi de muito de meus amigos da adolescência. Então quando me vêm as pejorações de "careta", "conservador", eu realmente não me incomodo. Quero ser assim; é uma missão de vida. 

"Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para outro mundo." Lewis, C.S.

A introspecção serve como uma aliada, regulando-me, isentando-me de fazer aquilo que julgo incorreto aos meus olhos, de acordo com minha conduta, de acordo com minha crença. Não há nada mais irritante do que as pessoas te forçando a sair, como se você tivesse a obrigação de ser extrovertido. Afinal de contas a timidez ainda é encarada como uma falha de caráter por muita gente. Não me refiro à timidez excessiva e descontrolada, que leva ao completo isolamento. Mas àquela que é característica de um melancólico ou de um fleumático (como eu). A necessidade absurda de se abraçar um caráter extrovertido como se isso fosse regra de vida, ainda mais numa sociedade que preza tanto o divertimento pela futilidade, parece ser inaceitável que existam pessoas que não se sintam confortáveis em uma festa, em público, que preferem ambientes quietos e valorizam o metodismo em um tempo de riscos e impensabilidades. 

Conclusão e pensamentos finais

Este sou eu. Mil vezes preferindo estar com um bom livro, assistindo TV ou usando o computador do que estar em uma festa. Haters gonna hate. Mas eu sou muito apegado a essas características que de certa forma me tornam único num mundo que peca pela originalidade - não ignorando que há milhares de pessoas como eu. O "único" a que me refiro é diante do contexto em que vivo. Os ritos do título são os pequenos elementos da minha vida em que me diferencio dos meus semelhantes, elementos este que busco explorar ou corrigir sempre que necessário.