quinta-feira, 24 de março de 2016

Herege assumido! (Por Hermes C. Fernandes)




Quer mesmo saber? Sou herege! E digo isso com o peito cheio. Se quiser, pode me mandar pra fogueira agora mesmo. Estou pronto a morrer pela mensagem subversiva de que sou portador. Mesmo porque, não valeria a pena viver por algo pelo qual não me dispusesse a morrer.
Minha heresia?
Discordar do que tem sido feito em nome da ortodoxia.
Meu problema não é com a ortodoxia em si, mas com a práxis dos hipócritas que vivem o avesso do que afirmam crer. Esses me dão ânsia de vômito.
Por isso, resolvi chutar o balde e assumir de vez a postura de herege.*
Eles pregam a divindade de Jesus, porém tratam-no como se fosse um empregadinho. Chamam-no de Senhor, mas exigem que Se lhes submeta, atendendo às suas ordens, determinações e decretos.
Ensinam a divindade do Espírito Santo, mas ridicularizam-no com manifestações bizarras que não temem atribuir a Ele.
Pregam a salvação pela graça, e em seguida exigem que seus seguidores façam sacrifícios complementares para assegurar-lhes a condição de salvos ou garantir-lhes as bênçãos divinas.
Pregam que Jesus está às portas, mas levantam campanhas milionárias para construir catedrais suntuosas ou adquirir aviões, em vez de pregar a esperança de dias melhores e contribuir para amenizar as injustiças sociais.
Ensinam a generosidade só para colocá-la à serviço de sua própria avareza.
Cansei de fundamentalismo barato, intelectualmente preguiçoso, e ideologicamente comprometido com os poderes deste mundo. Cristãos que preferem ladear os poderosos, e desprezar os miseráveis e excluídos. Denunciam a pretensão socialista de que o Estado ocupe o lugar de Deus, mas fazem vista grossa ao Estado Neo-liberal que se presta ao papel de Diabo.
Prefiro a isenção profética! Não quero aliar-me a qualquer que seja a ideologia, pois todas são inequivocadamente imperfeitas. Prefiro ser porta-voz do Reino, a ser defensor de agendas ideológicas. Marx não me basta! Mas não será Olavo de Carvalho que me converterá num reacionário. Não me curvo ao Estado, mas também não me prostro ante o Capital. Ambos são potencialmente ídolos. Ambos exigem lealdade absoluta, coisa que só devo ao império de Cristo.
Livre comércio? Sim. Mas não ao custo da justiça. Justiça social? Sim. Mas não ao custo da liberdade.
Por favor, não me rotulem. Não sou penteca, mas também não morro de amores pelo tradicionalismo mofado que só serve ao orgulho denominacional idiota. Sou reinista! Só devo lealdade ao Rei dos reis!
Crer na contemporaneidade dos dons não me faz carismático nem pentecostal; crer na soberania divina não me faz calvinista; apreciar arte sacra não me faz idólatra, e negar-me a ajoelhar-me ante a uma imagem não me torna iconoclasta. Crer na intervenção divina em atendimento às nossas preces também não me faz um neo-penteca.
Se insistirem em me tachar, prefiro que me chamem de herege. Pelo menos serei identificado com os injustiçados, vítimas dos sistemas opressores que se arrogam detentores da verdade absoluta. Prefiro isso a ser identificado com os que oprimem, e em cujas mãos estão acesas as tochas da intolerância, prontas a atear fogo nos discordantes e rebeldes.
Se reeditarem a santa inquisição, a maioria dos líderes que explora seus rebanhos ficará de fora. E sabe por quê? Porque são todos ortodoxos e dogmáticos. Todos têm em comum a crença no concepção virginal de Cristo, em Sua ressurreição ao terceiro dia, em Sua ascensão**, na Criação em sete dias literais, etc. Nenhum deles pode ser acusado de heresia. Eles até poderiam escapar ilesos das chamas inquisitoriais, mas duvido que escapariam de outra chama!
Prefiro ser torrado nas fogueiras dos meus detratores a ter minha consciência chamuscada pela culpa, e minha alma alvejada pelas chamas do inferno.
Sou herege assumido, e quem não for... que acenda a primeira tocha!
*Heresia, do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção".
** Coisas nas quais também creio.


terça-feira, 8 de março de 2016

Intensidade.


Por trás da calmaria, há um furacão.


Ela é tudo, menos desinteressante. É o todo maior que a soma de suas partes. É alma que dança, que sorri, que chora, que fala, que se chateia; são os olhos que suplicam e me encaram, são os lábios que formam o mais manhoso e belo "eu amo você", abafado contra o meu peito. São os braços que me envolvem, me dando e me pedindo segurança. É o mundo que se choca contra o meu e causa um rebuliço do qual não posso - e nem quero - escapar.

Ela é o espírito frágil carregando seus próprios tormentos. Mas também é a força que carrega em seu caminhar. É o que disseram sê-la, mas também é o que se faz ser a cada dia. É o que vê em si e o que não consegue enxergar. São os seus olhos e os meus olhos. É a sua e a minha verdade. 

Escrevo esse texto na ânsia de entender de onde vem o que sinto por você. De onde se principiou tal sentimento, como ele veio a pulsar dentro de mim. Por que, sempre que eu pensava em Aracaju e em construir uma vida lá, você era o nome que permanecia sussurrado e escondido no meu íntimo? Por que eu precisava tão desesperadamente vê-la? Quem era você, que provocava essa confusão no meu coração? Quem era você, que me deixasse assustado e receoso de prosseguir? Quem era você, para me fazer sair de minha redoma e arriscar, ser impulsivo? 

Eu sei quem você é. É alguém digna desse sentimento. É alguém de quem vejo o melhor e o pior, que a mim se revela por inteiro - e que em sua completude, me fascina, me atrai. É alguém por quem, mesmo nos maus dias, luto a cada momento. É alguém a quem me nego. 

E é alguém que se nega por mim. É alguém que nunca desistiu desse coração aqui, mesmo que houvessem os dias em que desejou ter desistido. Veja bem, meu bem: não era para ter desistido mesmo não, e aqui estamos. Aqui estou eu, e eu não vou desistir ou enjoar de ti. Mesmo nos dias ruins, a tua mão se estende até mim. Principalmente nos dias ruins, eu serei seu cais. Aporta-te em mim, e te darei a felicidade e o amor que sempre lhe foram reservados. Achega ao meu abraço, e não me completa: me transborda. 

Porque o amor é isso: o equilíbrio perfeito entre o que nos difere e o que nos une. E não há mais eu sem você, e você sem mim. 

"She's mad but she's magic. There's no lie in her fire."