sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sobre refugiados, xenofobia e o necessitado.

Nada revela tanto da natureza humana quanto o relacionar-se com o outro. A verdadeira face de muitos - a crueldade e o ódio, a arrogância e o desprezo, a intolerância e o preconceito - pode vir à tona no momento em que são confrontados com as diferenças e necessidades do próximo. E poucas vezes isso tem sido tão evidente do que com a situação dos refugiados na Europa.

Foi preciso a foto de um menino sírio morto numa praia para comover o mundo acerca desse assunto, quando na verdade as raízes dele remontam a eventos como a Primavera Árabe e os conflitos étnico-religiosos que a anos assolam o Oriente Médio e a África. Para cada Aylan Kurdi pelo qual choramos há dezenas de árabes e africanos mortos em praias, ignorados pela grande mídia. No entanto, tão chocante e revoltando quanto ver a precariedade das condições de transporte dessas pessoas, é o tratamento que muitas estão recebendo ao chegarem à Europa.

Recentemente noticiou-se a imagem de uma repórter húngara pondo o pé para um imigrante e seu filho tropeçarem. Isso é apenas a ponta do iceberg. Vê-se uma clara falta de sensibilidade e tolerância da parte de muitos, ao que são somados fortes estereótipos (o muçulmano terrorista, o negro inferior, etc.), que não apenas se baseiam em argumentos equivocados, preconceituosos e parciais, como podem se revelar como heranças do imperialismo e colonialismo europeu, que subjugou os continentes asiático e africano e suas culturas habitantes. Tais heranças se perpetuam até hoje e se revelam em momentos como esse.

Sob gritos de "estão roubando os nossos empregos", "eles podem ter doenças", "precisam voltar para seus países", "não podemos sustentá-los" e etc., esconde-se uma aterradora desumanidade, que precisa ser extirpada de nós. E não precisamos ir muito longe, à África ou ao Oriente Médio, para combatê-la: basta começar pelo menino de rua, para o índio desapossado de sua terra. A luta pelo outro, contra nós mesmos, começa aqui.

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