sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Star Wars - O Despertar da Força



Deixe-me começar essa resenha deixando uma coisa bem clara: Star Wars é a saga da minha vida. A maturidade pode ter me trazido consciência de que os filmes possuem sim suas falhas, mas desde moleque tenho paixão pelo universo criado por George Lucas e que agora continua nas mãos da Lucasfilm e da Disney, que esse ano nos trazem o filme mais aguardado do nosso tempo: O Despertar da Força.

Há cerca de um mês postei aqui uma análise de como poderia ser o filme (http://blogdochup.blogspot.com.br/2015/11/tentando-desvender-star-wars-force.html), e agora que o assisti é engraçado voltar pra esse texto e ver o que acertei ou errei. E não tão engraçado ver que alguns dos meus pedidos não foram atendidos...

A primeira coisa que temos de deixar claro é: para o bem ou para o mal, O Despertar da Força cumpre o que promete.

"Vinícius, como assim 'para o bem ou para o mal'?". Permita-me explicar, e me perdoe se soar chato, mas este não é um filme perfeito. Assisti eufórico, me exultei e saí satisfeito, mas há falhas sim. No meu texto de especulações já tinha deixado claro minhas preocupações se esse filme seria um mero "Uma Nova Esperança" em 2015. E embora ele é muito mais do que isso, não deixa de reciclar (muitos) elementos do primeiro filme da saga. Personagem confiando a um robozinho fofo algo importante para ficar longe dos vilões? Confere. Figura sinistra que seduziu o vilão do filme para o Lado Negro? Confere. Uma super-arma que destruirá planetas (nesse caso, sistemas)? Também. Relações familiares "reveladoras"? Sim. Está tudo lá, de novo. Isso gera conforto? Gera. Mas enquanto não me importava de reencontrar esses elementos dos filmes antigos, queria vê-los de forma mais dosada, ou sendo subvertidos. Talvez tenha faltado ousadia do Abrams, não sei... mas para algo eles ousaram. Algo que me destruiu. 

(Mas só assistindo pra vocês saberem)

Por outro lado, não há como amar cada referência (já tava pulando na cadeira quando Rey e Finn falaram sobre uma certa "sucata", e gritei junto com o resto do cinema quando a Millenium Falcom enfim apareceu). Cada aparição de um personagem clássico eram gritos e aplausos. 



O engraçado é como esse filme foi de certa forma transicional. Normalmente, analisando-se sob a ótica da "jornada do mito", temos a passagem da tocha, a transição entre o velho e o novo. Nesse caso, os nossos "guias" para esse velho universo (mas com ares de novo) foram justamente Han e Chewie, nossos mais adoráveis piratas espaciais - e que não à toa são os personagens antigos com mais tempo em tela aqui. Chewie com seus rosnados e sons característicos, que nos dizem tudo, e Han... ah, o que falar do meu personagem favorito? 30 anos depois e ainda o mesmo canalha, o mesmo "old dog", mas envelhecido, com uma sombra pairando sobre ele. Uma sombra que muitos já esperavam.

Mas quem rouba a cena mesmo são os novos protagonistas. Você tinha dúvidas de que uma catadora e um ex-Stormtrooper suportariam o fardo de levar essa saga para toda uma nova geração? Bom, não terá mais. Daisy Ridley e John Boyega são dois atores fantásticos, completos achados. A Rey de Ridley não é apenas linda e um amorzinho: ela é forte, ela é durona, ela é uma ótima pilota, ela não precisa de alguém segurando sua mão  na hora de fugir. Ela é a heroína que precisamos, aquela que ao lado de Imperatriz Furiosa e Jessica Jones mostra que lugar de mulher é onde ela quiser - inclusive em sua saga favorita. Apenas aceite isso. 

E ELA VAI LEVAR O CINEMA À LOUCURA NO TERCEIRO ATO. MAS NÃO VOU FALAR MAIS NADA!

O Finn (anteriormente FN-2187) de Boyega é feito de um material diferente. Ele não apenas traz humanidade a um exército de indivíduos arrancados de sua família e recondicionados com um único propósito (e espero que isso seja mais explorado adiante), mas como é um alívio cômico que sabe nos fazer rir, ao invés de nos irritar (Jar Jar, essa foi pra você). Além do mais, ele é um herói (se é um Jedi ou não, não cabe a mim te dar a resposta) e tem uma química maravilhosa com a Rey - de parceiros de luta, de amigos e - quem sabe futuramente? - de um casal.



Poe Dameron é um bom personagem, meio presunçoso mas completamente habilidoso no que faz, mesmo carecendo de mais tempo de tela (apesar de ser crucial no primeiro ato do filme). O mesmo não pode ser dito da Capitã Phasma da nossa eterna Brienne de Tarth, Gwendoline Christie. Para uma personagem que prometia ser badass, ela aparece muito pouco para nos causar alguma impressão. Mas já sabemos que ela voltará no EP. VIII (isso não é spoiler, já foi confirmado antes mesmo do filme lançar). E o que falar de BB-8? Se você achou R2-D2 adorável, vai simplesmente se apaixonar por essa bola e querer ter um pra si. Sério, que coisa fofa! MEU DEUS DÁ VONTADE DE MORDER! 



Mas o que seria de uma saga sem seus vilões, não é? Novamente "reciclando" um conceito de uma Nova Esperança, temos duas lideranças com abordagens distintas, obedecendo a uma figura maior. Falarei primeiramente de uma dessas lideranças e da tal figura maior. O General Hux foi uma grata surpresa. Nós vimos muito pouco dele durante a campanha de marketing de filme, e as comparações com Moff Tarkin eram inevitáveis. Mas eis que temos um homem duro, implacável, e que possui uma retórica inabalável. É marcante a cena em que ele discursa para os exércitos de Stormtroopers em Starkiller, e não podemos deixar de pensar nas associações com o Nazismo, até nos gestos feitos pelos integrantes da Primeira Ordem (e realmente espero que eles trabalhem ainda a temática política que foi um dos pontos mais fortes da trilogia prequel, nessa relação República x Resistência x Primeira Ordem). Já o Líder Supremo Snoke se mostra até imponente, mas não diz muito a que veio. Quem ele é e como se relaciona com os personagens principais com certeza serão questões pertinentes a serem respondidas nessa nova trilogia; um mote principal, com certeza.



Mas eu sei de quem vocês querem que eu fale, e lhes garanto: Kylo Ren é um vilão impressionante. Vai soar heresia para muitos, mas na minha opinião ele já se igualou ao Vader - e o supera em termos de construção emocional. Ele passa imponência e medo, mas também uma fragilidade emocional como não se via (tô desconsiderando o Anakin da trilogia prequel). Muitos podem reclamar do fato dele sem máscara não passar essa mesma imponência até porque o Adam Driver é um ator feio, mas aí entra essa questão da complexidade emocional e psicológica de que falei. Ah, e pode ter a certeza: você vai terminar o filme xingando muito ele. Muito.

No quesito técnico, o filme é um primor. Um dos aspectos mais notáveis e positivos foi a questão do ritmo apresentado. A verdade é: os filmes anteriores tem sim problemas de ritmo. A sequência em Hoth no ep. V é maior do que deveria, já que eles tinham que justificar o acidente do Mark Hamill; a sequência em Tatooine do ep. VI é exageradamente longa, com o plano de resgate de Solo na fortaleza de Jabba e a batalha sobre o poço de Sarlaac. O resgate de Palpatine no ep. III tinha de realmente consumir toda a meia hora inicial do filme? Acho que não. Mas aqui, neste sétimo episódio, em vinte minutos os personagens principais são introduzidos, o contexto é apresentado, a ação corre solta sem nunca soar muito apressada e tudo é feito com equilíbrio, sem soar exageradamente rápido ou demasiadamente enfadonho. E mesmo que o filme apresente algumas soluções muito rápidas (especialmente as referentes à Rey na segunda metade), cada ato é muito bem delineado e dosado, fazendo deste filme uma referência em questão de ritmo, ao lado de Mad Max. E sobre as lutas de sabre? Na medida certa, sem aquele "travamento" da trilogia antiga nem as piruetas da prequel. E vamos dar um desconto gente, os personagens tão aprendendo a manejar sabres de luz faz pouco tempo (o que não me impediu de gritar junto com todo mundo feito um louco na hora em que um dos personagens conseguiu usar a Força para pegar um sabre).

Abrams ainda peca com alguns de seus ângulos holandeses e seus flares, mas felizmente eles são muito poucos comparados aos seus filmes anteriores). A fotografia é excelente (me diz se não é de arrepiar a cena inicial de um Star Destroyer cobrindo um planeta inteiro), enquanto a trilha sonora do mestre John Williams, enquanto resgata muitos temas clássicos para o deleite dos fãs, não se destaca tanto com temas originais, à exceção do belíssimo tema criado para a Rey. Ainda assim, que esta lenda viva ainda muitos anos para continuar a compor para a franquia.

E é isso. Expectativas foram atendidas, fossem boas ou más. A questão é: O Despertar da Força é o filme que os fãs estavam esperando. Em sua grande maioria, foi o filme que eu queria. E mesmo que termine de forma tão inconclusiva, com excesso de perguntas e ganchos para serem respondidas nos próximos filmes (enquanto que Uma Nova Esperança era em sua maior parte um filme conclusivo em si mesmo), ele ainda é uma experiência marcante pra mim e tenho certeza de que está sendo para todas as gerações que acompanham com tanto amor essa saga maravilhosa, cujo legado se perpetua no cinema. Agora resta esperar pelos próximos episódios e as "Anthologies", e palmas pro Abrams, Disney e Lucasfilme que trouxeram um monstro de bilheterias!

Que a Força esteja conosco, amigos.



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