quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ritos da Introspecção.

Um breve estudo do eu

Gosto de ser tímido. Gosto dessa retraição que há em mim, da prevalência da introspecção. Permite-me um olhar clínico, observador, muito mais sincero. Quando tratei da minha baixa auto-estima em "Espelho, espelho, que trazes as mais doces ilusões" pontuei o quanto não sabia reagir diante de um elogio, a ponto de não conseguir formular palavras em certas situações e de ficar até mesmo enrubescido. Por mais que queira ser reconhecido pelo que faço (um ligeiro desvio de arrogância que sim, tenho), não sei como me portar quando me reconhecem por isso. Então qual não foi minha surpresa quando li esta matéria da SuperInteressante: "Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança". (link: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/pessoas-que-ficam-vermelhas-facilmente-sao-mais-generosas-e-inspiram-mais-confianca/)

A verdade é que eu sou confiável. Sei guardar um segredo. Sou daqueles que nunca chegará na pessoa pra firmar uma amizade, sendo que na maioria das vezes são as pessoas que se aproximam de mim. Sou cauteloso, por assim dizer. Mas uma vez firmada a amizade busco ser o melhor amigo do mundo e realmente me solto, no sentido de ser mais comunicativo e relacionável. Mas com desconhecidos? Ateio-me à minha velha amiga, a timidez.

A auto-crítica como um mecanismo de defesa

A leitura dessa matéria foi correlacionada a outra: "Como ser um tímido profissional" (http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/como-ser-um-timido-profissional/ utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super), onde era analisado o livro "Manual de Sobrevivência dos Tímidos", de Bruno Maron, além de uma entrevista fantástica com o autor. Quero ressaltar aqui um excerto de parte desta entrevista, onde ele diz algumas das melhores palavras que eu já li nos últimos tempos:

"A verdade é que por mais cuidadoso que você seja no exercício da crítica humorística, sempre haverá brecha para alguém te criticar. É muito conveniente você se abalar apenas com a sua autocrítica, acho isso covarde. Gosto quando alguém me aponta o dedo na cara e eu fico desconcertado por dentro. Ainda sim alguém pode dizer que eu digo que gosto de ser criticado pra disfarçar que eu não gosto de ser criticado. Percebe? Vira um fractal de cinismo… Sacanear a si e o mundo demandam uma honestidade absoluta."

Me identifico com essa passagem porque reflete justamente o ato da auto-crítica que faço comigo mesmo. Se eu me xingo, não me importarei caso alguém me xingue - ou assim creio. Criei esse mecanismo de defesa porque tenho de conviver com a zombaria e a zoação pra cima de mim desde guri. Sim, já sofri muito bullying, apesar de que minha situação nem se compara a de outras pessoas que chegam ao ponto de precisarem de terapia. Se foi um ponto crucial para o fato de ser uma figura mais fechada, não sei dizer. E como já disse aqui, sou dos que se importam muito mais com a crítica negativa (mesmo que dissimulada) do que com os elogios. Isso me corrói, no sentido de que graças ao meu mecanismo de defesa passei a criar uma opinião cada vez mais negativa de mim mesmo.

Uma admiração surpreendente

É engraçado como eu me tornei tão conhecido nestes últimos quatro anos. Certamente foi um processo onde bati de frente com a antissocialidade para realmente me tornar mais sociável. É simplesmente cômico (a meu ver) o modo como eu sou prezado por tantas pessoas. Fica meio difícil de falar as palavras que tenho pra falar sem o risco de soar um arrogante e orgulhoso, mas a verdade é que todo aquele "bullying" que faziam comigo impulsionou o conhecimento de meu nome. Ou melhor, do meu apelido. Você sabe qual é. Muitos que souberam quem eu era através das zoações de meus amigos passaram a saber  que eu fazia, no que eu cria, do que gostava. Isso levou a um respeito que eu não sabia ser capaz de adquirir.

Some-se a isso fatores como minha personalidade tipicamente neutra. Descobri em mim mesmo a capacidade de ser extremamente amigável, mesmo que não fosse o responsável por criar essas amizades - elas simplesmente surgiam. A capacidade de ser respeitoso com todos a quem conheço, esse ar introspectivo aliado a uma excelente retórica e uma personalidade meio "nerd" (apesar de odiar ser chamado de nerd), o meu caráter (excessivamente) formal - esses meus aspectos realmente chamam a atenção, para o bem ou para o mal. Quando mais discerno sobre isso mais penso que realmente não sou alguém muito normal. Tenho minhas falhas também, muitas conhecidas - as piores, escondidas -, então não sou nem de longe perfeito. Ainda bem.

A introspecção enquanto benefício

Eu realmente tenho orgulho de muitas coisas que sou, no sentido de que sempre diferi de muito de meus amigos da adolescência. Então quando me vêm as pejorações de "careta", "conservador", eu realmente não me incomodo. Quero ser assim; é uma missão de vida. 

"Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para outro mundo." Lewis, C.S.

A introspecção serve como uma aliada, regulando-me, isentando-me de fazer aquilo que julgo incorreto aos meus olhos, de acordo com minha conduta, de acordo com minha crença. Não há nada mais irritante do que as pessoas te forçando a sair, como se você tivesse a obrigação de ser extrovertido. Afinal de contas a timidez ainda é encarada como uma falha de caráter por muita gente. Não me refiro à timidez excessiva e descontrolada, que leva ao completo isolamento. Mas àquela que é característica de um melancólico ou de um fleumático (como eu). A necessidade absurda de se abraçar um caráter extrovertido como se isso fosse regra de vida, ainda mais numa sociedade que preza tanto o divertimento pela futilidade, parece ser inaceitável que existam pessoas que não se sintam confortáveis em uma festa, em público, que preferem ambientes quietos e valorizam o metodismo em um tempo de riscos e impensabilidades. 

Conclusão e pensamentos finais

Este sou eu. Mil vezes preferindo estar com um bom livro, assistindo TV ou usando o computador do que estar em uma festa. Haters gonna hate. Mas eu sou muito apegado a essas características que de certa forma me tornam único num mundo que peca pela originalidade - não ignorando que há milhares de pessoas como eu. O "único" a que me refiro é diante do contexto em que vivo. Os ritos do título são os pequenos elementos da minha vida em que me diferencio dos meus semelhantes, elementos este que busco explorar ou corrigir sempre que necessário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário