domingo, 1 de setembro de 2013

Deus fala?

O termo gospel é uma flexão de "God spell" - "Deus fala". Entretanto hoje em dia o termo ganhou uma definição bem mais ampla, referindo-se a todo um gênero musical voltado aos cristãos, mais especificamente aos evangélicos. Nunca o mercado gospel esteve tão visado e lucrativo, e o que mais se tem visto são novos artistas, apresentando tendências ao público e vendendo milhões, ganhando prêmios e conquistando espaço na mídia.

Não, pera, acabei de descrever um artista secular. Confere, produção?

Pois é galera, é nisso que a música gospel se transformou. Querendo atrair o mundo, se transformaram no mundo. Os artistas cristãos são vistos como estrelas, com direitos a chiliques e regalias (não tô dizendo que eles não tem direito a desfrutar de certos confortos, mas tem uns que passam dos limites, sendo piores do que popstars seculares). Mas espere aí! Eles não deviam ser servos? Quer dizer, se cremos que Deus conferiu a nós dons, estes homens e mulheres não deviam ser mais humildes e reconhecer a grandeza do Senhor? Se sim, porque estão querendo fazer com que reconheçam a sua grandeza? Afinal de contas, Deus realmente fala através dessas pessoas?

E as letras... que vergonha. Foi se o tempo das palavras poéticas que conduziam o ouvinte à reflexões profundas e catárticas, expressando a graça salvadora de Cristo e tantas outras maravilhas. Hoje em dia parece que é tudo farinha do mesmo saco. Ouviu uma, ouviu todas (ou a grande maioria). Sabe o que é mais legal? Ver que muitos dos artistas que em suas letras dizem que adoram ao Senhor e não vivem sem Ele na vida real demonstram uma absoluta falta de coerência com tais palavras, exibindo uma hipocrisia vergonhosa e repulsiva. Isso sem contar a absoluta falta de originalidade em termos de estilos musicais, né: trabalhos altamente derivativos de materiais estrangeiros, copiando estilos e traduzindo um sem-número de canções, como se faltasse criatividade pra compor as próprias (nada contra traduções, entendam, mas basta enxergar o excesso destas no meio gospel - a mesma lógica se aplica aos ritmos estrangeiros). É como se não soubessem que vivem num dos país mais ricos do mundo culturalmente falando.

Essa postagem foi a mais agressiva e direta que fiz até agora porque a situação no meio evangélico está lamentavelmente insustentável. Assim como eu pontuei que a artificialidade do cinema e da música atuais reflete a artificialidade da própria sociedade moderna, as críticas que faço à música cristã atual são reflexo da situação crítica que a religião protestante enfrenta no Brasil - e em quase todo o mundo. Poucos artistas têm a ousadia de ir contra esses paradigmas e oferecer um louvor inteligente, poético e condizente com a Palavra, e infelizmente não é difícil ver alguns destes sendo seduzidos pelas propostas do mundo midiático, até porque gospel vende. Não, gospel não. Afinal de contas, se não é possível ouvir a Deus através desse tipo de música, porque se referir a ela usando esse termo de significado original tão bonito e que foi tão criminosamente generalizado? 

Por fim, deixo o link desse excelente vídeo gravado com a Banda Resgate, cujos membros tiveram a coragem de dar um tapa na cara de muito "artistazinho gospel" com algumas verdades. Espero de coração que eles estejam refletindo essa diferença do resto do meio musical em suas vidas: 




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