domingo, 8 de setembro de 2013

Faróis.

Parâmetros. Guias. Modelos de comportamento. Inspirações. Referenciais. Portos seguros. 

Nesta última noite eu acordei às 2h da madrugada, extremamente incomodado comigo mesmo. Um turbilhão de pensamentos passava por minha cabeça, uma sensação de desconforto. Minha alma tem sido acometida das mais diversas formas nestas últimas semanas, e eu percebi, em um momento de auto-reflexão, que muito da minha falta de paz interior se devia ao fato de que eu estava guardando um segredo muito importante das duas pessoas que mais amo e admiro na face da terra. Acordei-os às 3h da manhã e confessei meu namoro que escondi deles por dois meses e meio. Abri, de certa forma, meu coração.

Qual não foi minha surpresa pelo fato da reação deles não ter sido como eu esperava.

Se eu soubesse o quanto seriam compreensivos teria confiado neles antes e mais. De qualquer forma, abrir-me com meus pais trouxe-me uma paz que eu não julgava ser possível restaurar para mim. Além disso me fez notar certos aspectos neles dois que antes eram imperceptíveis aos meus olhos.

Pais cerceiam seus filhos até onde podem. Os meus sempre foram acusados de super-proteção, e não sem razão, tenho de admitir. Contudo, houve um momento na nossa conversa ontem em que eu percebi que estava diante das pessoas mais maravilhosas do mundo. Eles não esbravejaram comigo pelo fato de eu ter escondido um namoro deles por tanto tempo, e tenho certeza de que não o fariam mesmo se o horário permitisse. O modo como me aconselhavam, relatando algumas de suas próprias experiências, foi de um significado tremendo pra mim.

Meus pais são heróis. Mais do que tudo, são exceções. Onde muitos falharam, eles tiveram um êxito que eu não posso creditar à existência humana, porque é uma história tão louca que não pode ser real. Foram melhores amigos por mais de um ano, minha mãe friendzonando fortemente o meu pai. Primeiro ponto: ele venceu a friendzone! Só por isso aí já é um herói, mas a história vai além. Namoraram por seis anos, à distância, ela em Vitória da Conquista e ele em São paulo. Meios de comunicação? Telefonemas públicos e cartas. Numa época em que a internet nem existia eles obtiveram o êxito de sustentar um relacionamento que, de todos os ângulos possíveis, estava fadado ao fracasso. Não foi sem seus problemas, é claro: houve os términos e retornos, as brigas, os terceiros. E no entanto, aqui estão eles. Vinte anos de casados, dois filhos na bagagem - e um amor daqueles que você sabe que nem a morte pode conter.

Há um valor no relacionamento de meus pais que eu não posso expressar com as palavras, porque elas simplesmente não fazem jus. Acho que o mais próximo que cheguei foi quando eles comemoraram seus vinte anos de casamento, em janeiro, então vou copiar o texto que fiz no facebook na data em questão:

"Hoje, olhando para os vinte anos de casamento que meus pais completam, percebo que o amor não é apenas uma palavra carente de um significado mais profundo. Há muito "eu te amo" por aí, mas olhando para estes dois, vejo o quanto essa frase soa verdadeira se pronunciada por eles. Isso me inspira... me inspira a olhar para a concepção de um relacionamento com olhos diferentes da maioria do mundo, inclusive dos meus amigos. A buscar algo sério, para longe do simples ato do ficar e de sua banalidade. Este é um amor imensurável, cada vez mais raro hoje em dia, não extinto porém. Amor que eu quero levar pra toda minha vida, afinal se não fosse por ele não estaria aqui."




Esse amor não só me gerou, ele me inspira continuamente. Quando as coisas apertarem, eu sei onde posso me achegar. As palavras com as quais comecei essa postagem dão apenas uma vaga ideia do que meus pais representam pra mim e sempre representarão. Quero ser como eles. Quero ter um relacionamento como o deles. Quero que o mundo veja através de mim aqueles que me educaram, assim como eu tenho visto o Deus em que creio através da vida deles. 

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