quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lições que a morte nos ensina.

A morte é meu grande temor.

Na infância fui acometido deste medo de uma forma bastante opressora, não raramente acordando em desespero no meio da noite após sonhos (ou pesadelos) onde imaginava o fim de minha vida. Além disso, outra ideia macabra - esta enraizada na minha educação cristã - me atemorizava: o Julgamento Final, o "assustador" Apocalipse. Não conseguia conceber a ideia de um infinito, da vivência em um novo Céu e uma nova Terra pelo resto da eternidade. Parecia... estranho. Mesmo depois de crescido são ideias que me confundem, e se me pego a pensar excessivamente na morte me vejo novamente como antes: desesperado, assustado, sem ar.

Faz cerca de um mês e meio que meu tio-avô Ijanai faleceu, aos 78 anos, em decorrência de uma série de fatores, em especial um tumor. Apesar de bastante debilitado ele não deixou de fazer aquilo que era uma de suas grandes paixões - pregar o Evangelho. Lembro-me de que um dia fizemos um culto doméstico em sua casa e no momento da oração todos demos as mãos, e eu peguei na sua. Senti-a trêmula, frágil. Aquilo me tocou de uma forma bem mais marcante do que eu poderia imaginar. Me fez pensar na própria fragilidade da vida, em como esta é efêmera - e em como a desperdiçamos com tantas banalidades. A iminência da morte (mesmo que não a sua) acaba se revelando uma experiência catártica.

E umas duas semanas depois da morte dele meu tio Beto, irmão do meu pai, faleceu aos 45 anos em decorrência de um ataque cardíaco. O que provocou esse ataque, eu não sei dizer. Mas meu tio sempre teve problemas com bebidas e drogas, e  temo que isso tenha influenciado de alguma forma em sua morte. Isso é triste, porque boas referências não faltaram a ele. Eu não era íntimo dele, mas mesmo assim a perda de um parente sempre é lastimosa. Por não ser íntimo não poderia dizer que o conhecia tão bem e tampouco julgá-lo de acordo com o que fez. Mas não é fácil lidar com esses problemas dentro de sua família. 

Dessas duas pesarosas mortes eu tiro a seguinte conclusão: estes dois homens eram duas faces da mesma moeda. Não posso falar por eles a respeito das escolhas que fizeram, dos erros que cometeram, de quem no íntimo eram. Mas posso dizer que em morte me ensinaram certas coisas, por mais trágico e triste que tenha sido esse meio de ensinamento. A principal delas é a vigilância que preciso manter sobre as condutas que tenho (ou afirmo ter), até porque como já mencionei antes aqui no blog o mundo lá fora está com as pedras na mão, pronto para lançá-las em você se der um escorregão. E se você afirma pertencer a um credo religioso, a voracidade para atirá-las em você é ainda maior. Os "sepulcros caiados" estão por aí aos montes, os juízes. 

"Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho de seu irmão." Mateus 7.5

A hipocrisia deve ser um mal inerente ao ser humano, mas a futilidade não é. Prova disso são pessoas que vivem tão bem e felizes mesmo tendo tão pouco. Não vou ser hipócrita aqui e dizer que ter bens materiais não é satisfatório e prazeroso, convocando todos a um desapego geral, mas está óbvio o quanto o homem se tornou escravo de suas próprias criações, preso a uma mentalidade materialista e fútil. Nosso deus é o dinheiro e nossos santos são consequentemente tudo o que ele pode comprar.

Nesta incessante busca pelo que nos satisfaça em nossas vidas acabamos trilhando caminhos arriscados e muitas vezes sem volta. Tentamos desesperadamente viver pelas regras deste mundo e de uma forma tragicamente irônica acabamos nos esquecendo de nossas próprias vidas. E enfim a morte chega, implacável, infalível. Num momento em que é tarde demais.

Não permita que seja tarde demais.

Um comentário:

  1. Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
    Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
    Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

    Mateus 6:19-21

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