domingo, 8 de setembro de 2013

Ismos, pt. 3.

Da eterna luta entre o espírito e a carne.

Hedon

Vejo uma nova religião surgir nos dias de hoje: o culto ao "eu". 

Lembro-me que quando era mais novo, provavelmente entre meus 11 e 12 anos, fiz um trabalho sobre o Renascimento. Uma das questões que eu pontuei nele foi como neste período a visão teocêntrica de mundo passou a ser substituída pela antropocêntrica. Ou seja, Deus deixou de ser o centro do universo e o homem ocupou seu lugar. E ao fim deste trabalho, quando foi pedido que se citasse as influências do período Renascentista na atualidade eu pontuei exatamente isso: o culto ao corpo, o físico perfeito, a auto-valorização e a preocupação excessiva com a aparência.

É engraçado como lembro desse trabalho até hoje. É engraçado como, diante de tantos "ismos" para trabalhar resolvi encerrar essa série com essa temática. No fim das contas tudo se resume ao homem e as escolhas que faz dia após dia, o modo distorcido como se vê, a negação que faz a toda e qualquer possibilidade de existir algo além da sua carne. Pois o que é hedonismo senão a teoria de que é o prazer o bem supremo da humanidade? Num sentido amplo, deturpa o próprio conceito de felicidade, o qual já é por si mesmo algo tremendamente relativo. Geralmente o conceito de hedonismo é usado num termo pejorativo, mas o próprio homem é um ser que se pejora. E como é uma lógica funesta, essa.  

Antes de tudo, não venho aqui pagar de radical e dizer "huur duur chega de academias, pare de se preocupar com a aparência, vire um relento huur duur". Não. Mas esta é uma velha questão: as pessoas se importam com a aparência de tal forma que ignoram seu interior e o dos outros. Old but gold.

Material

"Maior sou e para maiores coisas nasci do que para ser escravo da minha carne." Sêneca

Nos tornamos escravos de um desejo materialista de vida, algo que nos sacie. E queremos mais e mais, porque nada nos satisfaz realmente. O materialismo não se refere apenas a bens compráveis, mas a todo e qualquer meio dito fútil que sirva como alternativa para preencher nossas necessidades. Ele se correlaciona intimamente com o hedonismo, porque a busca pelo prazer transcende as relações humanas e se estende aos meios acima citados. O que seriam eles? Carros, aparelhos eletrônicos, a academia? Tanto faz. A meu ver, tais meios correspondem a tudo que é efêmero, que não é indelével. 

"Tudo passa, tudo passará..." 

Enquanto isso o espírito definha. A alma agoniza. Não são nutridos, pois o corpo, o externo, esta "capa", é mais alimentado, mais visado, é julgado ser mais importante. Que mundo é esse onde o fútil é a lei, onde o exterior vale mais do que o interior. Não serei hipócrita aqui: é óbvio que julgo a aparência ser importante. Mas acredite, muita coisa mudou em relação a esse meu ponto de vista. Isso tem muito a ver com meu namoro, com o fato de que ela não correspondia a minhas expectativas de aparência física e no entanto conseguiu me fazer ver além do exterior, para amar seu espírito. E confesso que isso me fez ver o quanto era bonita fisicamente falando, ainda que ela mesmo não se enxergasse assim. Ainda que meu relacionamento tenha acabado, essa marca ficará comigo para sempre. Posso dizer que tenho "autoridade" pra discorrer sobre esse assunto.

Conclusões e pensamentos finais

Chego ao fim dessa série de pensamentos com uma sensação de dever cumprido. Falar de assuntos tão generalizados é correr o risco de cair em lugares-comuns, mas espero ter acrescentado alguma coisa a essas discussões. Claro que não é o fim; ainda há muito a que se fazer. Certos "ismos" precisam ser reavaliados, outros precisam ser extirpados. Mas nenhum está isento de reflexões. Refletir sobre este mundo e suas inconstâncias se faz necessário cada vez mais. 


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