sábado, 14 de setembro de 2013

O Rock in Rio e o espírito comercial e mercadológico dos tempos modernos.



Eu não gosto da página "Attwhore", mas a crítica desse post é pertinente e me fez refletir bastante.

Mais uma edição do Rock in Rio, mais uma polêmica. Num primeiro dia onde o destaque foram duas grandes cantoras do pop, Ivete Sangalo (que inclusive cantou "Love of My Life" do Queen numa interpretação boa, até) e Beyoncé, o DJ David Guetta naturalmente aparecem os críticos apontando a grande questão: "Cadê o ROCK do ROCK in Rio?""Tire esse pop daí!" e outros jargões. Sim, estou dentre os críticos. Por que não? Agora, se você acha que isso me impede de fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o tema está enganado, meu amigo. 

Assim como está ligeiramente enganado se usa a desculpa do "rock significa agitar, não se refere ao gênero musical". Ok, pode até ser nisso que Roberto Medina pensou, mas não muda o fato - fato este brilhantemente observado num comentário que vi no facebook - de que a primeira edição foi sim um show de bandas de rock aliado a elementos brasileiros pop, como a MPB. O que se vê hoje é um evento pop onde o rock ficou em segundo plano.

Sempre fui um roqueiro. Não tenho vergonha disso, e não são pseudo-intelectuais que descem o pau (às vezes, merecidamente) nos pseudo-roqueiros da internet que vai me fazer abrir mão do estilo musical que me define. A grande questão aqui é que este evento está explorando a música das massas, e sempre foi assim desde sua primeira edição, porém o instinto mercadológico da indústria musical cresceu de uma forma tão exponencial nas últimas décadas que é óbvio que a atenção do evento passou a ser voltada a outros fatores.

Os anos 80 foram gloriosos pro rock em geral, especialmente diante do aprofundamento do heavy metal (concebido em fins de 60 e início de 70 e de início embebido no blues rock e no psicodelismo, pra então gerir seu próprio som) e do chamado rock "arena" ou "de estádio". É uma época em que eu queria ter vivido. Engraçado que meu pai me enganou por anos me dizendo que tinha ido ao Rock in Rio de 1985, e eu acreditei (nossa, como eu sou babaca, cara). Mas imagine um show em que tocam duas de suas bandas favoritas de TODOS OS TEMPOS, Yes e Queen. Além de outros nomes renomados, como Whitesnake e Iron Maiden (do qual eu não sou fã, mas reconheço seu papel pro heavy metal). Teria sido maravilhoso. Mas enfim, ainda faltavam 10 anos pra eu nascer então não há porque se prender a algo que aconteceu quando você nem era vivo. Voltemos ao hoje.

A questão é que a música se tornou um produto massificado e superficial, privilegiando as vendas em detrimento do conteúdo. Me refiro ao aspecto "cultura" aqui, porque esse é um tema sensível e gosto musical é uma parada pessoal demais, mas pra os que são contra os que dizem "funk não é cultura", penas pensem no seguinte: é saudável que um estilo musical e de vida que muitas vezes faz apologia a violência, a uma vulgaridade desmedida e a um viver totalmente supérfluo integre a tão rica cultura brasileira? Como isso reflete os padrões de nossa sociedade?

Mas é claro que porque Beyoncé dançou o "lek lek" ontem, tudo está bem. 

Aí, se eu não gostei disso os "pseudo-críticos" me esfolarão e me taxarão de mimizento. Eu nunca disse que estava mimizando, a questão é que o direito da crítica é válido a todos. E meus esforços aqui residem em apresentar uma crítica objetiva e inteligente, ao contrário de pseudo-roqueiros com suas opiniões superficiais e suas posturas arrogantes que têm mais é que serem criticados mesmos.

Uma vez que o pop é o centro das atenções da música, é inevitável que popstars virão para o Rock in Rio. Se o grande público ama a música eletrônica, então não há porque ficar surpreso com a presença de David Guetta. Isso sem contar o ecletismo dos outros palcos, oferecendo diversidade musical. Eu, se estivesse lá, me dedicaria a assistir as apresentações das orquestras Sinfônica Brasileira e Imperial, porque amo música erudita.

Se eu estivesse lá, o que mais assistiria?

Com certeza iria pra Muse e Alice in Chains, duas de minhas bandas favoritas da atualidade. E me dedicaria a Bon Jovi, Sebastian Bach e Dr. Sin, que embora não façam parte do meu rol de escutas tem minha curiosidade e respeito. Mas fora isso? Mais nada. Então me ateio a isso no sentido de que faz parte dos meus gostos, mas o resto de nada me atrai. 

Como é de praxe aqui no blog, uso elementos atuais pra fazer reflexos e reflexões sobre nossa sociedade. Então não adianta chorar, o Rock in Rio perdeu a sua essência, traindo sua própria proposta inicial - retratando o espírito mercadológico e massivo da indústria da música. No mundo utópico dos roqueiros, só rock tocaria lá. Agora deixa eu te dizer uma coisa: ISSO NUNCA ACONTECERÁ. Bem-vindo à realidade.




Um comentário:

  1. Cara, concordo com tudo que vc falou, só destaco que, como vc disse, pessoalmente, a maior parte do que está apresentado lá não me agrada, porém, nenhum festival no mundo agradaria!!! Nem os próprios músicos estão mais na vibe dos anos 80! Não existe mais aquilo, foi um momento e passou! Podemos ouvir, curtir, lembrar (quem já tinha nascido, eu nasci 5 anos depois), admirar... mas não voltará a acontecer com a mesma essência!!
    Só mais uma coisinha que gostaria de ressaltar, infelizmente, funk é cultura sim! Independente de ser boa, ruim, produtiva, ter algum valor social ou de qualquer tipo... infelizmente é um tipo de cultura, assim como costumes medievais ainda existentes no oriente médio, entre outras coisas abomináveis (sim, eu comparo, pois, quero que alguém me prove que a influência ideológica do funk carioca não causa praticamente os mesmos efeitos violentos na sociedade que o absorve) que diversas sociedades mantém... mesmo abominável, ainda é cultura! =/

    ResponderExcluir